BRCG

Decisão de política monetária – Comunicado do Copom (out/21)

27/10/2021

Bottom line: O Banco Central elevou a taxa Selic em 150bps na reunião de outubro, como esperado pelo mercado, levando-a a 7,75%a.a. A autoridade monetária foi explícita ao dizer que os questionamentos fiscais elevam o risco de desancoragem da inflação, antecipando uma Selic terminal de 9,25%a.a. em 2021. As simulações oficiais sugerem que uma elevação da Selic a um pico de 9,75%a.a., já começando a ser revertida no ano que vem, seria suficiente para levar a inflação de 2023 abaixo da meta. Temos severas dúvidas quanto à tamanha potência da política monetária. Ajustamos nosso call de Selic terminal a 9,25%a.a. em 2021, com elevação adicional a 11,25% no primeiro trimestre de 2022, em ciclo contínuo até a reunião de março (150+100+100); somente com este orçamento de juros, que ainda possui algum viés de alta, conseguimos gerar convergência à meta de 2023.

 
O Banco Central elevou a taxa Selic em 150bps na reunião de outubro, referendando as expectativas de mercado que foram majoradas após as recentes turbulências fiscais, levando-a 7,75%a.a. O movimento foi superior à nossa expectativa de elevação em 125bps. A autoridade monetária foi explícita ao dizer que os questionamentos fiscais vão além dos números de curto prazo, elevando o risco de desancoragem da inflação, e ampliando tanto a assimetria do balanço de riscos como a probabilidade de inflação superior à projetada em seu cenário básico. Nesse espírito mais duro, foi antecipada uma nova elevação de 150bps na reunião de dezembro, o que implicaria em uma Selic terminal de 9,25%a.a. em 2021.
O cenário simulado pelo Banco Central merece comentários cuidadosos. A autoridade monetária optou por ater-se à expectativa Focus para a Selic, que é distinta da sua sinalização já na próxima reunião (Focus 2021 a 8,75%a.a. vs. BCB 2021 a 9,25%a.a.). É altamente contestável se essa é uma escolha analítica razoável, restando somente uma reunião para o encerramento do ano. A situação fica ainda pior se notamos como o cenário Focus de juros é volátil, com pico da Selic em 9,75%a.a. durante 2022 e um pequeno corte para 9,50%a.a. ainda no ano que vem, seguido de uma redução mais intensa, para 7,00%a.a., em 2023. É difícil acreditar que esta seja uma trajetória de juros desejável pela autoridade monetária.
Usando essa trajetória peculiar, as projeções condicionais indicam que a meta do ano que vem estaria perdida (projeção de IPCA de 4,1%), mas entregar-se-ia inflação abaixo da meta em 2023 (3,1%). Ou seja, o modelo do Banco Central enxerga que a Selic do ano que vem, em específico o pico de 9,75%a.a., seria um monetary overkill. Temos severas dúvidas quanto à tamanha potência da política monetária; precisamos de Selic sensivelmente mais elevada (11,25%a.a. em 2022, e estável nesse nível em 2023) para entregar convergência à meta de 2023. O grande ponto de desvio está na composição da inflação oficial, que permanece sendo excessivamente benigna. Preços administrados parecem mais ajustados [2021: 17,1% (BCB) vs. 15,0% (BRCG); 2022: 5,2% (BCB) vs. 5,1% (BRCG); e 2023: 5,1% (BCB) vs. 4,7% (BRCG)], mas preços livres são consistentemente inferiores às nossas estimativas [2021: 6,9% (BCB) vs. 7,7% (BRCG); 2022: 3,7% (BCB) vs. 4,8% (BRCG); e 2023: 2,4% (BCB) vs. 2,7% (BRCG)]. 
De novo, temos um problema claro de comunicação. A trajetória simulada pelo BCB usa parâmetros em que ele mesmo não acredita (a Selic terminal de 2021), tem uma trajetória de Selic anormalmente volátil (sobe e cai ainda em 2022, prolongando esse ajuste durante 2023) e entrega projeções acima da meta no primeiro ano do horizonte relevante (2022), mas abaixo da meta no segundo ano (2023). As projeções condicionais deveriam aumentar o conjunto de informação sobre as disposições do Comitê, mas, nesse caso, parecem só estar entregando mais confusão.
Em conclusão, ajustamos nosso call de Selic terminal a 9,25%a.a. em 2021, com elevação adicional a 11,25% no primeiro trimestre de 2022, em ciclo contínuo até a reunião de março (150+100+100); somente com este orçamento de juros, superior ao oficial, conseguimos gerar convergência à meta de 2023. Nota-se, por fim, que nosso cenário base possui viés de alta para a Selic terminal (em 2022) devido à elevada projeção de 4,9% para a inflação de 2022, no limite da banda de oscilação autorizada para a meta do ano que vem (3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5p.p. para cima e para baixo).
Mais detalhes seguem abaixo. Como sempre, texto anterior em vermelho e novo texto sublinhado, com grifos onde julgamos relevante.

 

(1) Cenário externo: Muito mais lacônico; cenário menos favorável e mais desafios aos emergentes com a reação dos bancos centrais à persistência inflacionária global.

No cenário externo observam-se dois fatores adicionais de risco para o crescimento das economias emergentes. Primeiro, reduções nas projeções de crescimento das economias asiáticas, refletindo a evolução da variante Delta da Covid-19. Segundo, o aperto das condições monetárias em diversas economias emergentes, em reação a surpresas inflacionárias recentes. No entanto, os estímulos monetários de longa duração e a reabertura das principais economias ainda sustentam um ambiente favorável para países emergentes. O Comitê mantém a avaliação de que questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nas economias avançadas podem tornar o ambiente desafiador para países emergentes; No cenário externo, o ambiente tem se tornado menos favorável e a reação dos bancos centrais frente à maior persistência da inflação deve levar a um cenário mais desafiador para economias emergentes

(2) Atividade doméstica: Novamente lacônico, sugerindo ligeira moderação do crescimento.

Em relação à atividade econômica brasileira, a divulgação do PIB do segundo trimestre, assim como os indicadores mais recentes, continua mostrando evolução positiva e não enseja mudança relevante para o cenário prospectivo, o qual contempla recuperação robusta do crescimento econômico ao longo do segundo semestredivulgados desde a última reunião mostram uma evolução ligeiramente abaixo da esperada

(3) Inflação e expectativas: Mantendo a economia nas palavras, o Comitê fala de inflação elevada, com surpresas lideradas pelos componentes mais voláteis, mas que também se observa nos núcleos. Núcleos continuam acima do consistente com o cumprimento da meta e expectativas Focus estão sobem para 2021 (9,0%), 2022 (4,4%) e 2023 (3,3%, marginalmente acima da meta).

A inflação ao consumidor segue elevada. A alta nos preços dos bens industriais – decorrente de repasses de custos, das restrições de oferta e do redirecionamento da demanda em direção a bens – ainda não arrefeceu e deve persistir no curto prazo. Ademais, nos últimos meses os preços dos serviços cresceram a taxas mais elevadas, refletindo a gradual normalização da atividade no setor, dinâmica que já era esperada. Adicionalmente, persistem as pressões sobre componentes voláteis como alimentos, combustíveis e, especialmente, energia elétrica, que refletem fatores como câmbio, preços de commodities e condições climáticas desfavoráveis A inflação ao consumidor continua elevada. A alta dos preços veio acima do esperado, liderada pelos componentes mais voláteis, mas observam-se também pressões adicionais nos itens associados à inflação subjacente;

As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;

As expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 8,39,0%, 4,14% e 3,253%, respectivamente

(4) Projeções condicionais: Utilizando o cenário Focus, a Selic chegaria a 8,75%a.a. em 2021, com elevação a 9,75% a.a. durante 2022 e cortes posteriores, para 9,50%a.a. até o fim de 2022 e para 7,00%a.a. em 2023. A redução da Selic após pico em 9,75% confirma a Selic em terreno restritivo, e seu primeiro corte ainda em 2022 sugere que o pico seria um monetary overkill. As projeções oficiais, com esse cenário de juros, são de IPCA a 9,5% (2021), 4,1% (2022) e 3,1% (2023) – claramente acima da meta em 2022, mas abaixo da meta de 2023, confirmando o overkill pela modelagem oficial. Voltamos a um problema recorrente neste ano; a simulação oficial é, no mínimo, peculiar. Nossa Selic terminal passa a 9,25%a.a. em 2021 e a 11,25% em 2022, sendo mantida nesse nível em 2023. Com isso, temos inflação de 4,9% em 2022 e de 3,2% em 2023, consistente com administrados de 5,1% e 4,7% e preços livres de 4,8% e 2,7%. As simulações oficiais são excessivamente benignas com os preços livres, estimados em 3,7% em 2022 e 2,4% em 2023.

No cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,2560*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 89,5% para 2021, 3,74,1% para 2022 e 3,21% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 8,2575% a.a. neste ano e para 8,509,75% a.a. durante 2022, terminando o ano em 9,50%, e reduz-se para 6,757,00% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 13,717,1% para 2021, 45,2% para 2022 e 4,85,1% para 2023. Adota-se a hipótese de bandeiras tarifárias “escassez hídrica” em dezembro de 2021 e “vermelha patamar 2” em dezembro de 2022 e dezembro de 2023

(5) Balanço de riscos e decisão: O balanço de riscos incorpora de forma explícita os questionamentos em relação ao arcabouço fiscal, separando isto (e corretamente) do melhor desempenho recente das contas públicas. Aumenta a assimetria altista, implicando em maior probabilidade de inflação superior à projetada no cenário base. Referendando o mercado, o BCB optou por elevar a Selic em 150bps, atingindo 7,75%a.a. Nota-se, também, que os pesos de 2022 e 2023 passam a ser mais igualitários para a calibragem da política monetária.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico.

Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país. Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária. O Copom reitera que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia. Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,0050 ponto percentual, para 6,257,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante, que inclui o anoos anos-calendário de 2022 e, em grau menor, o de 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

(6) Próximos passos: A ideia de acumular mais informações foi abandonada. A piora do balanço de risco e o aumento das suas projeções (no caso, especialmente a de 2022) fazem com que a Selic entre ainda mais em terreno contracionista, antecipando mais uma elevação de 150bps em dezembro. Com isso, a Selic terminal de 2021 será mais elevada (9,25%a.a.) do que a utilizada nas simulações oficiais (8,75%a.a.). Na medida em que o BCB vê ser possível um corte de juros após pico em 9,75%a.a., essa diferença entre o cenário esperado e o cenário simulado acaba gerando confusão. A comunicação oficial é imprecisa, mantendo incertas a trajetória de juros e a Selic terminal que estão na cabeça do Banco Central. 

O Copom considera que, diante da deterioração no atual estágio do ciclobalanço de elevaçãoriscos e do aumento de jurossuas projeções, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a metaas metas no horizonte relevante e, simultaneamente, permitir que o Comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques. Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que ciclo de aperto monetário avance ainda mais no território contracionista.

Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.