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Vendas no varejo (2024): O tom muda ao fim do ano

Bottom line: As vendas no varejo recuaram em dezembro, fortalecendo os sinais de redução do ritmo da economia ao final de 2024. Os efeitos sobre o crescimento esperado para o ano passado foram parcos, mas transmite-se um tom mais negativo para 2025, alinhado ao nosso cenário de importante desaceleração do crescimento até o fim de 2026.

Encerrando a bateria de dados de alta frequência de dezembro, e mantendo o tom particularmente negativo observado na pesquisa mensal de serviços, as vendas no varejo frustraram as expectativas – tanto na métrica restrita como, principalmente, na ampliada. Configura-se, assim, um sinal mais claro de redução do ímpeto econômico, em linha com o nosso cenário de desaceleração relevante do crescimento do PIB em 2025.

O varejo restrito recuou -0,1% na margem, sendo consistente com uma expansão interanual de +2.0%. O resultado interanual foi inferior ao esperado pelo mercado (+3,1%), ainda que a margem tenha sido virtualmente a esperada. Já o varejo ampliado recuou -1,1% em dezembro, com expansão interanual de +1,4%. Nesse caso, os resultados foram bem inferiores ao esperado (respectivamente -0,1% e +3,0%), mantendo a dinâmica negativa observada em novembro.

Das aberturas dos indicadores (tabela 1) emergiram sinais particularmente frágeis em categorias específicas, tais como “combustíveis e lubrificantes”, “vestuário e calçados”, “artigos farmacêuticos”, “materiais de escritório” e “material de construção civil”. Em paralelo, desempenhos mais fracos das vendas em “supermercados e hipermercados” e “no atacado” reforçaram um ambiente de fraqueza da demanda ao final de 2024.

É importante ter em mente que parte relevante da frustração ocorreu devido a grandes revisões nas séries históricas, afetando, em novembro, tanto a métrica marginal como a interanual (tabela 2). As revisões não mudam o fato de que o desempenho das vendas no varejo foi notável em 2024 (gráfico 1). Mas, ao final do ano, foram cada vez mais robustos os sinais de desaceleração, especialmente na métrica ampliada (gráfico 2), reforçando a posição daqueles que imaginam uma desaceleração mais intensa do consumo em 2025.

Em conclusão, a bateria de dados de alta frequência de dezembro fortaleceu os sinais mais frágeis já observados no mês anterior, permitindo, com alguma convicção, afirmar que ultrapassamos o pico (ao menos local) da atividade (gráfico 3). Importante frisar que já tínhamos uma visão mais negativa para a economia adiante, com uma desaceleração importante e que só não será maior devido a impulsos exógenos (na agropecuária) durante o primeiro semestre de 2025.

Isso posto, nossas projeções pouco mudaram após a atualização do conjunto de informação; esperamos crescimento do PIB de +3,4% em 2024, de +1,7% em 2025 e de +1,6% em 2026. Há dúvidas relevantes, tanto na seara externa (a extensão e alcance da guerra comercial) quanto na interna (a disposição que o Executivo terá de “suportar” tamanha desaceleração), o que torna a amplitude de cenários possíveis maior do que o usual.

Tabela 1: Vendas no varejo (principais aberturas, MsM, AsA e acumulado em 12 meses)

Tabela 2: Revisão da série histórica (nov/24)

Gráfico 1: Vendas no varejo (restrito e ampliado, taxa de crescimento anual)

Gráfico 2: Vendas no varejo (dez/22=100, ajustado sazonalmente)

Gráfico 3: Indicadores de alta frequência (dez/22=100, ajustado sazonalmente)