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Vendas no varejo (out/24): Superaquecimento

Bottom line: As vendas no varejo avançaram em outubro, acima do esperado, confirmando um cenário de excesso de demanda e superaquecimento econômico. Será necessário impor restrições contundentes, e o movimento mais recente do Banco Central se alinha a isso.

Encerrando a sequência de surpresas positivas com os dados de alta frequências, as vendas no varejo vieram acima do esperado pelo mercado em outubro, tanto na métrica restrita como na ampliada. São mais do que evidentes os sinais de superaquecimento da economia, demandando uma atuação mais enérgica das políticas públicas para que o debate macroeconômico brasileiro volte aos trilhos. O Banco Central, com sua decisão de ontem, já deu um passo nessa direção; resta saber como a política (fiscal) reagirá, seja ajudando, ou atrapalhando, a autoridade monetária.

O varejo restrito avançou +0,4% na margem, sendo consistente com uma expansão interanual de +6,5%. Os resultados foram bem superiores ao esperado pelo mercado (respectivamente, -0,2% e +4,8%), ampliando o crescimento acumulado em 12 meses para +4,4%. Já o varejo ampliado avançou +0,9% na margem, com crescimento interanual de +8,8%. Ambas as leituras também foram bem superiores ao esperado (respectivamente, +0,1% e +7,3%), com o crescimento acumulado em 12 meses subindo para +4,3%. Note-se que tivemos pequenas revisões na séries históricas, majorando o desempenho marginal do mês anterior (setembro): por onde se olha, a surpresa foi notável.

As aberturas do varejo ampliado (tabela 1) sugerem uma demanda robusta, com pouquíssimas contrações marginais em outubro. Destacaram-se as vendas de “combustíveis e lubrificantes”, “vestuário”, “móveis e eletrodomésticos” e “veículos automotores”, confirmando um cenário de consistente crescimento. Isso fica particularmente claro ao observarmos o comportamento dos indicadores em nível, com séries ajustadas sazonalmente (gráfico 1): tanto o varejo restrito como o ampliado buscam novas máximas, em processo que não dá sinal de trégua nos últimos meses.

Em conclusão, a bateria de dados de outubro indica que o vigor da atividade, já observado nos últimos trimestres, deve continuar ao final de 2024 (gráfico 2). Há bons sinais de desequilíbrio entre demanda e oferta, o que manterá a inflação sob pressão e exigirá uma atuação mais contundente das autoridades. Esperamos que o PIB cresça aproximadamente 3,5% em 2024, e, com um arrasto estatístico importante, a expansão do ano que vem deve ser pouco menor do que 2,5%. O debate, de fato, ficará para 2026, contrapondo o aumento das restrições (especialmente de natureza monetária) e o desejo de estimular a economia tendo em vista as eleições presidenciais.

Tabela 1: Vendas no varejo (principais aberturas, MsM, AsA e acumulado em 12 meses)

Gráfico 1: Vendas no varejo (dez/22=100, ajustado sazonalmente)

Gráfico 2: Indicadores de atividade em alta frequência (jun/23=100, ajustado sazonalmente)