07/03/2022
Bottom line: Em sessão plenária do Congresso Nacional do Povo, foram divulgadas as metas econômicas para 2022. O maior destaque foi a meta de crescimento “ao redor de +5,5%”, número da ponta superior das opções consideradas pelos analistas, ainda que sendo o mais baixo desde o início dos anos 90. O governo entende as pressões em vigor e fará de tudo para manter o crescimento em patamares aceitáveis – o que, em nossa opinião, sugere mais estímulos adiante. Por ora, vamos manter a projeção de crescimento de 5,1% em 2022, reconhecendo leve viés de alta devido à disposição das autoridades.
Em sessão plenária do Congresso Nacional do Povo, ocorrida neste fim de semana, foram divulgadas as tão esperadas metas econômicas oficiais para 2022 (tabela 1). O maior destaque foi a definição da meta de crescimento “ao redor de +5,5%” neste ano, número da ponta superior das opções consideradas pelos analistas (a BRCG se incluía no grupo intermediário, que via a meta entre +5,0% e +5,5%, combinando as metas subnacionais, anteriormente divulgadas, para Beijing e Shanghai), ainda que a mais baixa desde o início dos anos 90. De acordo com nossos modelos, e ainda mais considerando os crescentes riscos que emanam do cenário internacional, atingir este crescimento exigirá um reforço adicional das políticas de estímulo; com o que se tem hoje (já implementado ou sinalizado), entendemos ser mais provável que o crescimento se situe ao redor de 5,0% no ano.
O kit de medidas de estímulo combinará iniciativas nas searas monetária, creditícia e fiscal, além de ajustes “micro” em setores específicos – neste caso, por excelência (e já em execução), uma sintonia fina na agenda regulatória, marcadamente na imposta ao setor imobiliário. Entendemos que os canais mais relevantes serão as medidas (para)fiscais e creditícias. No primeiro caso, a divulgação da meta de déficit primário de -2,8% em 2022 pode soar como um “aperto fiscal”, com a volta aos déficits praticados no pré-Covid. Essa leitura não é necessariamente correta por três razões: (i) historicamente a meta fiscal é indicativa e não costuma ser estritamente cumprida, ainda que as suas variações costumem indicar a direção da política (aperto ou expansão); (ii) há detalhes da execução fiscal sinalizada que sugere mais apoio do governo central aos subnacionais – especificamente, um aumento das transferências em 18% frente ao observado em 2021, ajudando a fazer frente à desaceleração de receita subnacional devida ao choque imobiliário; e (iii) a manutenção da cota de emissão de títulos subnacionais (SPB´s) em RMB 3,65tri em 2022, praticamente o mesmo nível do ano passado, o que sugere manutenção de uma política expansionista, priorizando iniciativas parafiscais destinadas a segmentos específicos – e aqui, por excelência, projetos de infraestrutura.
No segundo caso, já observamos recentemente uma mudança de perfil nas concessões de crédito, com um aumento das operações no shadow banking que tipicamente são colateralizadas em ativos imobiliários. Uma série de governos locais têm diminuído as restrições à aquisição de imóveis, em paralelo à promoção, por parte do governo central, de maiores disponibilidades dos bancos a famílias e pequenas empresas. Há também evidente impulso ao setor de habitação popular, expresso em parágrafo específico do relatório apresentado junto às metas econômicas oficiais. O mesmo relatório deixa claro que a política monetária de 2022 será prudente e flexível, mantendo amplo espaço de acomodação e oferta de suporte à economia. A meta de inflação, neste sentido, abre espaço para uma atuação mais contundente da autoridade monetária, se assim for necessário, mantendo também graus de liberdade para acomodar eventuais choques (externos) em preços que possam acontecer no decorrer deste ano.
Em conclusão, as metas apresentadas pelo governo deixam claro que as autoridades chinesas entendem as “três restrições” enfrentadas em 2022 – (i) fraqueza da demanda, tanto externa como interna; (ii) desorganização das cadeias logísticas e de suprimentos; (iii) elevado nível de incerteza – e se preparam para suavizar seus impactos sobre a economia. A meta de crescimento relativamente elevada, ainda que seja a mais baixa desde o início dos anos 90, sugere que o governo será ainda mais proativo na promoção da estabilização do crescimento em patamares aceitáveis. O cenário externo, ainda que pouco comentado nos documentos oficiais, representa desafio importante no curto prazo. Continuamos com nosso call de crescimento de +5,1% em 2022, reconhecendo certo viés de alta, a depender dos estímulos que acabarão sendo implementados pelo governo no decorrer do ano.
Tabela 1: Metas anuais oficiais