03/03/2021
O PIB do 2020.T4 registrou contração de -1,1% AsA (frente ao mesmo trimestre do ano anterior), consistente com forte expansão na margem de +3,2% TsT ( frente ao trimestre imediatamente anterior, na série ajustada sazonalmente). Ambos os resultados foram mais fortes do que a mediana das expectativas de mercado (-1,6% AsA e +2,8% TsT) e do que nossas projeções (-2,1% AsA e +2,5% TsT). Como resultado, o PIB contraiu -4,1% em 2020, número melhor acima da mediana de mercado e de nossa estimativa (respectivamente -4,2% e -4,3%).
Pelo lado da oferta, o maior destaque positivo do trimestre ocorreu no setor de serviços, com contração menos intensa do que esperávamos (-2,2% AsA / +2,7% TsT). Em seus detalhes, as surpresas parecem ter ocorrido em “Outros Serviços” e em “Administração, Saúde e Educação Públicas”. Os números da indústria (+1,2% AsA / +1,9% TsT) vieram alinhados às nossas expectativas, inclusive no forte desempenho da indústria de transformação (+5,0% AsA / +4,9% TsT), e a agropecuária teve desempenho mais fraco (-0,4% AsA / -0,5% TsT), ainda que pouco relevante para o resultado geral do PIB.
Pelo lado da demanda, a maior surpresa positiva ocorreu nos investimentos, com fortíssimo desempenho no último trimestre do ano (+13,5% AsA / +20,0% TsT). Já do lado negativo, as importações mostraram queda interanual ao final de 2020 (-3,1% AsA / +22,0% TsT), resultado bastante distinto de nossas projeções e que, a princípio, parece difícil de conciliar com o forte crescimento dos investimentos. Tanto o consumo privado (-3,0% AsA / +3,4% TsT) como o consumo público (-4,1% AsA / +1,1% TsT) mostraram bom desempenho na margem, alinhado às nossas estimativas. As exportações, por fim, vieram mais fracas do que esperávamos (-4,3% AsA / -1,4% TsT), ainda que dentro da margem de erro de nossos modelos.
Para o ano de 2020, registramos contrações relevantes dos serviços (-4,5%) e da indústria (-3,5%), sendo a agropecuária o único setor a registrar crescimento (+2,0%) pelo lado da oferta. O desempenho mais fraco dos serviços guardou estreita ligação com os efeitos colaterais da pandemia. O espelho, pelo lado da demanda, foram quedas relevantes no consumo privado (-5,5%), no consumo público (-4,7%) e nas importações (-10,0%). Tanto exportações como investimentos tiveram desempenhos comparativamente melhores (quedas respectivamente de -1,8% e -0,8%), ainda que contraindo no ano.
Olhando adiante, o carregamento estatístico para 2021 será de elevados 3,6% (ou seja, se o PIB deste ano ficar parado em todos os trimestres, crescerá, na média, este valor frente à média do ano passado). No entanto, há evidências cada vez mais consistentes de desaceleração do PIB no primeiro semestre de 2021, particularmente claras no primeiro trimestre, combinando contração da renda disponível, fraqueza no mercado de trabalho e recrudescimento da questão sanitária – no Brasil, ao contrário do mundo, estamos no pior momento da pandemia.
Revisamos a nossa estimativa de crescimento de 2021 para 2,9%, com fraqueza relevante na primeira metade do ano e recuperação posterior mais lenta do que anteriormente esperado. As projeções continuam sujeitas a um grau de incerteza mais elevado do que o usual, guardando estreita relação com os desdobramentos sanitários no decorrer deste ano.
A tabela abaixo compila os resultados do trimestre e sua comparação com nossas projeções.
PIB 4º Tri 2020 | TsT | AsA | Acumulado em 12 meses | Projeções (AsA) | |||
PIB a preços de mercado | 3.2% | -1.1% | -4.1% | -2.1% | |||
Ótica da oferta | Agropecuária | -0.5% | -0.4% | 2.0% | 0.5% | ||
Indústria | 1.9% | 1.2% | -3.5% | 1.3% | |||
Extrativa | -4.7% | -6.7% | 1.3% | N/A | |||
Transformação | 4.9% | 5.0% | -4.3% | 5.2% | |||
SIUP | -1.2% | 1.5% | -0.4% | N/A | |||
Construção civil | -0.4% | -4.8% | -7.0% | N/A | |||
Serviços | 2.7% | -2.2% | -4.5% | -3.0% | |||
Ótica da demanda | Consumo das famílias | 3.4% | -3.0% | -5.5% | -3.5% | ||
Administração Pública | 1.1% | -4.1% | -4.7% | -3.5% | |||
Formação Bruta de Capital Fixo | 20.0% | 13.5% | -0.8% | 7.5% | |||
Exportações | -1.4% | -4.3% | -1.8% | -2.6% | |||
Importações | 22.0% | -3.1% | -10.0% | 6.5% | |||
Fonte: IBGE e BRCG |