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PIB Brasil (2024.T2): Bem mais forte do que o esperado

Bottom line: O crescimento do PIB no 2º trimestre de 2024 foi bastante superior ao esperado, afastando os temores de desaceleração devido à tragédia climática no Rio Grande do Sul. O resultado coloca o Banco Central sob pressão, sugerindo abertura adicional do hiato do produto. Revisamos o crescimento de 2024 para +2,6%.

O PIB do 2º trimestre de 2024 registrou crescimento interanual de +3,3%, consistente com forte expansão marginal de +1,4%. Os resultados foram muito superiores ao esperado pelo mercado (respectivamente, +2,7% e +0,9%), e também vieram bem acima da nossa projeção (respectivamente +2,5% e +0,7%). No acumulado em 12 meses, o crescimento da economia se manteve em +2,5%, e aumentam os sinais de que possa ocorrer aceleração adicional até o final do ano.

Em si, a notícia é obviamente positiva; temores de uma desaceleração derivada do choque climático no Rio Grande do Sul não se confirmaram, e a economia seguiu em expansão puxada pelos serviços/consumo, mas com sinais de espalhamento por todos os segmentos econômicos. Há, no entanto, o efeito colateral de se ampliar a pressão sobre a condução da política monetária.

Nas aberturas do resultado (tabela 1) observa-se que os desvios em relação à nossa projeção (sempre olhando para a métrica interanual) ficaram concentrados em pouco segmentos. Pela ótica da oferta, os desvios relevantes ocorreram em serviços, com crescimento bastante superior ao que esperávamos. A agricultura também teve desempenho melhor, mas a contribuição do desvio foi pequena para o resultado agregado, e o desempenho da indústria foi alinhado aos nossos modelos. A distribuição desse resultado pela demanda mostrou crescimento mais intenso do que a nossa projeção no consumo, seja público ou privado, com mínimos desvios nas projeções de investimento e no setor externo. Importante notar, também, que a demanda seguiu operando acima da oferta, marcando mais um trimestre de vazamento externo.

Em conclusão, o resultado do PIB no 2º trimestre reforçou o forte crescimento já observado no início do ano, e, relevante, mais do que compensou efeitos negativos derivados da tragédia climática no Rio Grande do Sul. O crescimento econômico voltou a ganhar tração (gráfico 1), e isso traz desafios ainda maiores ao Banco Central, com sinais de abertura do hiato do produto em meio ao crescente debate sobre a elevação da taxa Selic na próxima reunião do COPOM.

O resultado do PIB no trimestre nos levou a reavaliar o nosso call de crescimento anual. A importância do mercado de trabalho e das políticas de transferência do Estado têm sido maiores do que imaginávamos, e não é por acaso que os desvios mais significativos têm ocorrido nos serviços e no consumo. Revisamos a projeção de crescimento em 2024 para +2,6% (anterior: +2,3%), mantendo o crescimento de +2,1% em 2025. Seguimos com um cenário de aumento relativo da absorção doméstica no curto prazo, implicando em vazamento externo relevante neste ano.

Tabela 1: Crescimento do PIB (Principais aberturas, observado vs. projeções BRCG)

Gráfico 1: PIB (nível, ajustado sazonalmente, dez/19=100)