Bottom line: O crescimento do PIB no 3º trimestre de 2024 foi praticamente alinhado ao esperado, confirmando uma economia que opera em ritmo acelerado. Revisamos para cima as projeções de crescimento do PIB, tanto em 2024 como em 2025. O forte desempenho é notícia positiva em si, mas traz efeitos colaterais na inflação e reflete os atuais desequilíbrios macroeconômicos brasileiros.
O PIB do 3º trimestre de 2024 registrou crescimento interanual de +4,0%, consistente com expansão marginal de +0,9%. Os resultados foram praticamente alinhados ao esperado pelo mercado e pela BRCG (respectivamente, +3,9% e +0,8%), confirmando o forte desempenho da economia em 2024. No acumulado em 12 meses, a economia brasileira cresceu +3,1%. É importante ter em mente que o país enfrentou choques negativos relevantes no ano, especialmente os de natureza climática, que parecem ter sido mais do que compensados por políticas públicas expansionistas. O forte crescimento é uma notícia positiva em si, mas traz efeitos colaterais na inflação e reflete os atuais desequilíbrios macroeconômicos brasileiros.
Nas aberturas do resultado trimestral (tabela 1), observa-se que os desvios em relação à nossa projeção (sempre olhando para a métrica interanual) foram bastante pontuais. Pela ótica da oferta, esperávamos uma queda mais intensa da agropecuária e um crescimento mais forte da indústria, nisso destacando um recuo menos pronunciado da extrativa. A despeito dos desvios, é forçoso reconhecer que os resultados ficaram dentro da margem de erro de nossos modelos.
A distribuição dos resultados pela ótica da demanda mostrou crescimento mais intenso do que esperávamos no consumo das famílias e nos investimentos, com alguma frustração no consumo do governo (mesmo que mantendo um ritmo acelerado). Com absorção interna correndo bastante acima da capacidade de oferta doméstica, as importações avançaram fortemente, registrando crescimento interanual bem superior ao das exportações.
Após certa moderação no ano passado, fica evidente que a economia voltou a crescer, de forma consistente, em 2024 (gráfico 1). É importante ter em mente as condições de fundo que viabilizam essa expansão acelerada, com políticas que promovem um forte aumento da demanda relativa: transferências de renda, mercado de trabalho aquecido e política fiscal em terreno expansionista seguirão dando o tom no curto prazo, mantendo o crescimento elevado e ampliando os desequilíbrios macroeconômicos.
Por fim, é importante lembrar que os dados do 3º trimestre de cada ano são acompanhados pela revisão das informações do ano anterior, incorporando novas fontes de informação e fazendo ajustes nos dados anteriormente divulgados. Com isso, o crescimento do PIB foi revisto de +2,9% para +3,2% em 2023 (tabela 2); pela ótica da oferta, as principais revisões ocorreram na agropecuária e nos serviços, tendo contrapartida, pela ótica da demanda, em forte aumento do consumo do governo. O aumento da expansão do PIB no ano passado aumentou a herança estatística para 2024, sendo fator, em si, a gerar pequeno viés positivo para as nossas projeções do biênio 2024-2025.
Em conclusão, os resultados do PIB (no 3º trimestre e na revisão da série histórica) indicam uma economia em franca expansão, com crescimento distribuído entre indústria e serviços, na oferta, e entre consumo e investimentos, na demanda. Há enorme vazamento externo, resultado de uma expansão da absorção em ritmo bem superior ao da capacidade de oferta doméstica. Revisamos a nossa projeção de crescimento do PIB em 2024 para +3,3% (anterior: +3,1%) e esperamos alguma redução do ímpeto em 2025, para +2,3% (anterior: +2,1%). Ainda assim, a economia segue crescendo acima das suas possibilidades, gerando pressão inflacionária e empilhando desequilíbrios.
Tabela 1: Crescimento do PIB (Principais aberturas, observado vs. projeções BRCG)
Gráfico 1: PIB (nível, ajustado sazonalmente, dez/19=100)
Tabela 2: Revisão das séries históricas do PIB (SCNT, 2023)