09/03/2022
Bottom line: A produção industrial recuou -2,4% em janeiro, consistente com uma contração interanual de -7,2%. O resultado foi inferior ao esperado pelo mercado, com composição particularmente fraca. O cenário prospectivo é bastante negativo para a indústria em 2022, combinando restrições do lado da oferta e evidências de fraqueza da demanda. Esperamos que a indústria cresça somente +0,2% em 2022, com evidente viés de baixa para esta projeção.
A produção industrial recuou -2,4% em janeiro, consistente com uma contração interanual de -7,2%. Ambos os resultados foram inferiores ao esperado pelo mercado (respectivamente -1,9% e -6,3%), retomando o padrão de surpresas negativas que foi brevemente interrompido na divulgação de dezembro. No acumulado em 12 meses, o crescimento da indústria desacelerou para +3,1% (tabela 1), desaceleração que deve se aprofundar adiante. Com a surpresa negativa de janeiro, a indústria (em nível, ajustado sazonalmente) se encontra 1,8p.p. abaixo do observado ao final de 2019 (gráfico 1).
Na margem, tanto a indústria extrativa como a transformação registraram importantes contrações, respectivamente de -5,5% e -2,0%, devolvendo o resultado positivo de dezembro. Da mesma forma, todas as categorias de uso da transformação registraram contração na margem, devolvendo o bom desempenho do fim do ano passado. Neste aspecto, destaque absoluto para a forte redução da produção de bens de consumo duráveis, combinando choques tanto do lado da oferta (desorganizações adicionais nas já confusas cadeias globais de suprimentos) como ajustes a uma demanda que já se mostra bem mais fraca (desaceleração da renda disponível e aumento dos custos de crédito).
Como destacado no comentário de dezembro, não devíamos encontrar grande suporte na surpresa positiva do fim do ano passado – as condições de contorno para a produção industrial são extremamente desafiadoras neste ano, e os resultados de janeiro só confirmam esta percepção. Note-se que o cenário prospectivo ganhou novas nuances negativas com a guerra na Ucrânia, levando a uma explosão de custos de insumos produtivos básicos e aumento do risco de estagflação global. O recém-divulgado corte de IPI sobre bens industriais parece ser muito pouco potente para lidar com cenário tão adverso. Esperamos crescimento da indústria de somente +0,2% em 2022, com evidente viés de baixa que deve se confirmar nas nossas próximas atualizações.
Tabela 1: Principais aberturas da produção industrial (MsM, AsA e acumulado em 12 meses)
Produção Industrial Mensal | ||||||
jan-22 | dez-21 | |||||
MsM | AsA | ac. 12m | MsM | AsA | ac. 12m | |
Indústria geral | -2.4% | -7.2% | 3.1% | 2.9% | -4.9% | 3.9% |
Atividades industriais | ||||||
Extrativa | -5.5% | -6.6% | 0.5% | 1.6% | 2.1% | 1.1% |
Transformação | -2.0% | -7.3% | 3.5% | 2.0% | -5.9% | 4.3% |
Categorias de uso | ||||||
Bens de capital | -7.3% | -7.9% | 26.0% | 4.4% | 5.9% | 28.5% |
Bens intermediários | -2.2% | -5.0% | 2.6% | 1.2% | -3.8% | 3.2% |
Bens de consumo duráveis | -11.2% | -25.8% | 0.2% | 6.9% | -16.8% | 2.1% |
Bens de consumo semiduráveis e não duráveis | -0.5% | -8.4% | -1.0% | 1.6% | -7.5% | -0.4% |
Fonte: IBGE | ||||||
Elaboração: BRCG |
Gráfico 1: Produção industrial (dez/19=100, ajustado sazonalmente)