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Vendas no varejo (2023): Frustração ao final do ano

Bottom line: As vendas no varejo frustraram, amplamente, as expectativas de mercado em dezembro. Os resultados de 2023 foram pouco afetados, mas emerge um sinal de alerta para o início de 2024. Resta saber como se comportaram os serviços, e como o governo reagirá a esta frustração.

Revertendo o ganho modesto observado em novembro, as vendas no varejo restrito registraram contração mensal de -1,3% em dezembro, sendo consistente com uma expansão interanual de +1,3%. Os resultados foram sensivelmente inferiores ao esperado pelo mercado (respectivamente -0,1% e +3,0%), implicando em crescimento de +1,7% nas vendas em 2023. Olhando a composição das vendas (tabela 1), emerge um desempenho decepcionante dos segmentos de “vestuário e calçados” e de “outros artigos de uso pessoal” durante o ano passado, contraposto ao aumento das vendas de combustíveis e supermercados. O desempenho na margem, no entanto, suscita dúvidas para a virada do ano; em nível, ajustado sazonalmente, o varejo restrito dá sinais de moderação desde, pelo menos, o 3º trimestre de 2023 (gráfico 1).

As más notícias de dezembro ganharam eco na métrica ampliada, que adiciona, ao varejo restrito, vendas de automotores, materiais de construção e atacado especializado em produtos alimentícios. No mês, as vendas contraíram -1,1%, resultado consistente com estabilidade interanual. Tal como no varejo restrito, os resultados foram muito inferiores ao esperado pelo mercado (respectivamente +0,4% e +3,1%), implicando em crescimento de 2,4% no ano de 2023. É necessário lembrarmos que o desempenho do ano foi bastante afetado por políticas específicas de estímulo às compras (tabela 1), notadamente no setor automotivo (ainda no primeiro semestre). Nos últimos meses, o desempenho tem sido claudicante; em nível, ajustado sazonalmente, o varejo ampliado também perde sustentação (gráfico 1), lançando “sinais delicados” para 2024.

Em conclusão, os dados do varejo de dezembro foram um balde de água fria naqueles que imaginavam uma contínua expansão da demanda ao final do ano. Os efeitos sobre 2023 são pequenos, dado o adiantado do calendário, mas cria-se uma narrativa ruim para o início de 2024. A questão relevante está em como o governo reagirá a esses fatos, lembrando, desde já, que pagamentos de precatórios tendem a aumentar a renda disponível no início do ano. É importante avaliar como será o comportamento dos serviços, para se traçar um diagnóstico mais organizado sobre os rumos da economia ao final do ano passado.

Tabela 1: Pesquisa mensal do comércio (PMC)

Gráfico 1: Vendas no varejo (dez/19=100, ajustado sazonalmente)