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Vendas no varejo (jun/21)

11/08/2021

Bottom line: As vendas no varejo frustraram novamente as expectativas em junho, tanto na métrica restrita como na ampliada, com contração na margem e sinais mais consistentes de redução do ímpeto do consumo em meados do ano. Os indicadores antecedentes de julho ainda sugerem um resultado robusto na largada do terceiro trimestre, mas a exaustão da base comparativa favorável e a forte desaceleração da renda disponível das famílias tendem a promover uma desaceleração das vendas no varejo durante os próximos meses. Tal evolução já faz parte de nosso cenário base e está na raiz de nossa projeção de crescimento do PIB pouco superior a 5,0% em 2021.

As vendas no varejo frustraram novamente as expectativas em junho, tanto na métrica restrita como na ampliada, com contração na margem e sinais mais consistentes de redução do ímpeto do consumo em meados do ano. O varejo restrito contraiu -1,7% no mês, consistente com uma expansão interanual de +6,3%. Ambos os resultados foram inferiores à mediana das expectativas de mercado (respectivamente +0,5% e +8,6%), ressaltando que houve nova revisão da série ajustada sazonalmente (em maio, a expansão mensal passou de +1,4% para +2,7%). O resultado interanual ainda é consequência do efeito base gerado pela eclosão da Covid em 2020, mas isso arrefecerá nas próximas divulgações; no acumulado em 12 meses, a expansão do varejo restrito acelerou marginalmente para +5,9% (tabela 1). 
A composição foi ruim na métrica mensal, com mais subsetores do varejo restrito contraindo do que expandindo. Do lado negativo, destacaram-se “combustíveis e lubrificantes”, “equipamentos de informática e comunicação”, “hipermercados e supermercados”, “vestuário” e “outros artigos de uso pessoal” – em todos os casos, a aceleração dos preços e a erosão da renda real disponível parecem estar machucando a capacidade de consumo das famílias. Do lado positivo, destacaram-se “móveis e eletrodomésticos” e “artigos farmacêuticos”, especialmente o primeiro – o ciclo de demanda pelas linhas branca e marrom dá sinais de exaustão, mas, de fato, ainda não acabou.
O varejo ampliado (que inclui material de construção e veículos, partes e peças) também surpreendeu negativamente, com contração de -2,3% mensal e expansão interanual de +11,5%. O resultado mensal foi mais fraco do que a mediana das expectativas de mercado (-1,7%), e após revisão negativa do crescimento marginal de maio (que passou de +3,8% para +3,2%). No acumulado em 12 meses, o crescimento do varejo ampliado avançou para +7,9%. 
Há evidente dicotomia entre o comportamento da margem de veículos automotores e materiais de construção, reflexo direto dos ciclos de consumo de seus respectivos bens. No caso dos veículos, registramos contração de -0,2% em junho, com sinais (anedóticos) crescentes de moderação na demanda. O mesmo não se pode dizer de material de construção, com forte expansão de+1,9% em junho, por sobre expansão ainda mais forte em maio – o ciclo imobiliário parece continuar, com impacto nas obras e nas benfeitorias (o que vale, também, para móveis e eletrodomésticos). Ressalta-se, por fim, que as taxas de crescimento interanual continuam relevantes, efeito da base comparativa favorável (tabela 1).
Os resultados de junho indicam que o ciclo de aceleração na demanda por bens pode estar se aproximando do seu fim (gráfico 1). Os indicadores antecedentes de julho ainda sugerem um resultado robusto na largada do terceiro trimestre, mas a exaustão da base comparativa favorável e a forte desaceleração da renda disponível das famílias, ao combinar uma inflação mais elevada e um menor crescimento da renda nominal, tendem a promover uma desaceleração das vendas no varejo durante os próximos meses. Tal evolução já faz parte de nosso cenário base e está na raiz de um crescimento do PIB pouco superior a 5,0% em 2021.
Tabela 1: Pesquisa mensal do comércio (PMC)
Pesquisa Mensal de Comércio
jun-21mai-21
MsMAsAac. 12mMsMAsAac. 12m 
Varejo restrito-1.7%6.3%5.9%2.7%15.9%5.4%
Combustíveis e lubrificantes-1.2%11.5%-2.1%6.8%19.5%-4.3%
Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo-0.5%-3.0%0.8%1.0%-4.3%1.5%
Tecidos, vestuário e calçados-3.6%61.8%3.9%10.2%165.3%-3.9%
Móveis e eletrodomésticos1.6%-5.4%16.2%0.9%22.7%18.9%
Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos0.4%13.1%14.4%-1.0%19.5%13.9%
Livros, jornais, revistas e papelaria5.0%17.2%-28.3%4.2%59.3%-31.2%
Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação-3.5%3.3%-3.1%3.1%32.7%-4.2%
Outros artigos de uso pessoal e doméstico-2.6%22.6%20.6%6.3%59.6%19.2%
Varejo ampliado-2.3%11.5%7.9%3.2%26.2%6.8%
Veículos, motocicletas, partes e peças-0.2%33.1%8.3%1.2%72.3%4.1%
Material de construção1.9%5.3%22.0%4.9%25.7%23.7%
Fonte: IBGE
Elaboração: BRCG
Gráfico 1: Vendas no varejo (dez/19=100, ajustado sazonalmente)