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Vendas no varejo (jun/22): Anemia

10/08/2022

Bottom line: As vendas no varejo frustraram novamente as expectativas em junho, tanto no indicador restrito como, principalmente, no ampliado. As leituras ainda não foram amplamente impactadas pelas novas rodadas de injeção de renda nas famílias, o que tende a promover melhores resultados durante o segundo semestre. Na ausência de estímulos, a capacidade de crescimento segue anêmica. Continuamos esperando crescimento do PIB de somente +1,5% em 2022. Com a exaustão de vetores expansionistas, 2023 tende a ser um ano difícil.

Pelo segundo mês consecutivo, as vendas no varejo frustraram as expectativas de mercado, tanto no indicador restrito como, principalmente, no indicador ampliado. As leituras de junho ainda não foram amplamente impactadas pelas novas rodadas de injeção de renda nas famílias, com cortes de impostos e aumento das transferências, o que tende a promover melhores resultados no varejo durante o segundo semestre. Resulta claro, pelo desempenho aqui reportado, que a capacidade de crescimento das vendas é anêmica na ausência de estímulos do governo.
O varejo restrito contraiu -1,4% no mês, resultado consistente com uma contração interanual de -0,3%. Ambos os resultados foram bastante inferiores às expectativas de mercado (respectivamente -1,1%% e 0,0%). No acumulado em 12 meses, o varejo restrito passou a contrair -0,9% (tabela 1), ampliando o resultado negativo em relação ao observado em maio. A composição do indicador mostra que a desaceleração foi, na margem, generalizada – houve crescimento marginal somente nas vendas de “artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos”, mantendo o bom desempenho recente do segmento. Em nível (ajustado sazonalmente), o indicador de varejo restrito mostra uma suave tendência à desaceleração desde o final do 2021.T1 (gráfico 1).
Já o varejo ampliado (que inclui material de construção e veículos, partes e peças) registrou resultado ainda mais negativo, com queda de -2,3% na margem e contração interanual de -3,1%. Ambos foram sensivelmente inferiores ao esperado pelo mercado (respectivamente -0,8% e -0,1%), promovendo uma migração do desempenho acumulado em 12 meses a terreno negativo – nessa métrica, o varejo ampliado agora recua -0,8% (tabela 1). Tal como tem ocorrido nos últimos meses, as vendas de material de construção e de equipamentos automotivos continuaram a contrair na margem, respectivamente por -4,1% e -1,0%. 
Entendemos que tal desempenho deriva diretamente da exaustão de vetores de impulso ao consumo destes bens, destacando o aumento das restrições financeiras na economia brasileira. Dessa forma, continuamos céticos quanto à capacidade de dinamização dos segmentos crédito-intensivos adiante, mesmo com o aumento da renda disponível. A desaceleração do varejo ampliado (no nível ajustado sazonalmente) é mais intensa do que a observada no varejo restrito (gráfico 1), dinâmica que deve se manter adiante.
Em conclusão, os indicadores de varejo de junho estão mais próximos ao nosso cenário-base de crescimento moderado neste ano. Haverá retomada cíclica no segundo semestre, mas continuamos confortáveis com nossa projeção de crescimento de somente +1,5% em 2022. Com a exaustão dos vetores expansionistas, 2023 será um ano difícil.
Tabela 1: Pesquisa mensal do comércio (PMC)
Gráfico 1: Vendas no varejo (dez/19=100, ajustado sazonalmente)