14/01/2022
Bottom line: As vendas no varejo surpreenderam positivamente em novembro, tanto na métrica restrita como na ampliada, fazendo eco ao tom mais positivo observado nos serviços. Apesar de certo alento, não se modifica a progressiva desaceleração da economia observada durante 2021. Ressalta-se, também, que os indicadores anedóticos do início de 2022 são negativos, efeito da variante Ômicron da Covid. Reafirmamos as nossas projeções de crescimento do PIB de +4,6% em 2021 e de +0,6% em 2022, esta última com moderado viés de baixa.
As vendas no varejo surpreenderam positivamente em novembro, tanto na métrica restrita como na ampliada, fazendo eco ao já observado nos serviços e interrompendo uma sequência de fracos resultados desde agosto. Nota-se, também, que a divulgação foi acompanhada de revisão nas séries históricas, mantendo contração marginal na métrica ampliada, mas convertendo o desempenho do varejo restrito de pequena contração para pequena expansão em outubro. O varejo restrito expandiu +0,6% no mês, consistente com queda interanual de -4,2%. Ambos os resultados foram bastante superiores à mediana das expectativas de mercado (respectivamente +0,0% e -5,6%), com revisão do resultado marginal de outubro, ajustado sazonalmente, de contração de -0,1% para expansão de +0,2%. Ainda assim, a expansão acumulada em 12 meses do varejo restrito desacelerou para +1,9% (tabela 1).
A abertura dos resultados do varejo restrito mostrou resultados mistos na margem. Do lado positivo, houve expansão nas vendas de “hipermercados e supermercados”, “artigos farmacêuticos” e “outros artigos de uso pessoal” – a composição sugere que as promoções da Black Friday podem ter tido efeito sobre o desempenho positivo do mês. Do lado negativo, “combustíveis e lubrificantes”, “vestuário e calçados”, “móveis e eletrodomésticos” e “papelaria” registraram contração na margem – os vetores de restrição ao consumo continuam presentes.
O varejo ampliado (que inclui material de construção e veículos, partes e peças) também surpreendeu positivamente, com expansão de +0,5% mensal e queda de -2,9% interanual. Os resultados também foram bem mais fortes do que a mediana das expectativas de mercado (respectivamente -0,4% e -4,6%), mas, ainda assim, o crescimento acumulado em 12 meses reduziu para +5,1%. Após contração na margem em outubro, tanto as vendas de veículos automotores como as de material de construção cresceram na margem (respectivamente, +0,7% e +0.8%).
Os resultados de novembro confirmaram o sinal emitido pelo volume de serviços, com moderação da trajetória descendente do consumo observada durante o 2021.T3. A fraqueza, no entanto, continua: em nível (ajustado sazonalmente), o indicador de varejo restrito se encontra levemente acima do observado ao final de 2019, ao passo em que o varejo ampliado está levemente abaixo (gráfico 1).
Em conclusão, os indicadores de alta frequência de novembro sugerem um aumento da dicotomia entre a oferta (produção industrial) e o consumo de bens (varejo) e serviços (gráfico 2) ao fim de 2021. Houve certo alento para o comportamento da economia no 2021.T4, mas sem modificar a trajetória de progressiva desaceleração observada durante o ano passado. Ressalta-se, também, que os indicadores anedóticos do início de 2022 são negativos, com evidências de redução da mobilidade e desaceleração do comércio varejista, dos serviços e da indústria devido ao repique sanitário associado à variante Ômicron da Covid. Reafirmamos as nossas projeções de crescimento do PIB de +4,6% em 2021 e de +0,6% em 2022, mantendo moderado viés de baixa para o resultado deste ano.
Tabela 1: Pesquisa mensal do comércio (PMC)
Pesquisa Mensal de Comércio | ||||||
nov-21 | out-21 | |||||
MsM | AsA | ac. 12m | MsM | AsA | ac. 12m | |
Varejo restrito | 0.6% | -4.2% | 1.9% | 0.2% | -6.9% | 2.6% |
Combustíveis e lubrificantes | -1.4% | -7.2% | 0.2% | -0.3% | -7.7% | 0.2% |
Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo | 0.9% | -0.5% | -2.3% | 0.3% | -5.0% | -2.4% |
Tecidos, vestuário e calçados | -1.9% | -4.4% | 11.9% | 1.3% | -2.0% | 11.9% |
Móveis e eletrodomésticos | -2.3% | -21.5% | -4.8% | -2.1% | -22.6% | -0.7% |
Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos | 1.2% | 2.5% | 10.4% | -0.1% | -0.1% | 11.2% |
Livros, jornais, revistas e papelaria | -1.4% | -14.4% | -21.3% | -1.0% | -7.8% | -21.3% |
Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação | -0.1% | -5.6% | -2.7% | 5.7% | -11.2% | -3.2% |
Outros artigos de uso pessoal e doméstico | 2.2% | -2.6% | 13.7% | 1.8% | -7.2% | 15.9% |
Varejo ampliado | 0.5% | -2.9% | 5.1% | -0.8% | -7.0% | 5.7% |
Veículos, motocicletas, partes e peças | 0.7% | 1.6% | 15.1% | -0.4% | -4.0% | 15.1% |
Material de construção | 0.8% | -4.1% | 6.6% | -0.8% | -14.1% | 8.5% |
Fonte: IBGE | ||||||
Elaboração: BRCG |
Gráfico 1: Vendas no varejo (dez/19=100, ajustado sazonalmente)
Gráfico 2: Indicadores de alta frequência (dez/19=100, ajustado sazonalmente)