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Vendas no varejo (out/23): Sensação negativa

Bottom line: Os resultados do varejo de outubro surpreenderam negativamente, ampliando a sensação de menor ímpeto econômico no início do 4º trimestre de 2023.

As vendas no varejo restrito contraíram -0,3% em outubro, desempenho consistente com uma expansão interanual de +0,2%. Interrompendo uma longa sequência de surpresas positivas, os resultados do mês foram bastante inferiores ao esperado pelo mercado (respectivamente, +0,4% e +1,8%). No acumulado em 12 meses, o crescimento das vendas no varejo restrito desacelerou para +1,5% (tabela 1), em tendência que deve se aprofundar adiante.

A abertura do indicador confirmou a fraqueza das vendas nas principais categorias, com destaque para contrações marginais em “combustíveis e lubrificantes”, “supermercados”, “vestuário” e “móveis e eletrodomésticos”. Em nível, ajustado sazonalmente, o varejo restrito segue em patamar relativamente elevado (gráfico 1), mas, com sinais de fraqueza de demanda se espalhando pelos indicadores de alta frequência, emerge um tom mais negativo.

Esses sinais também apareceram no varejo ampliado, que registrou contração de -0,4% na margem, consistente com crescimento interanual de +2,5% – ambos abaixo do esperado pelo mercado (respectivamente +0,3% e +3,5%). Note-se que houve expansão marginal tanto em vendas de automóveis como em materiais de construção, mas, em ambos os casos, há um padrão já estabelecido de trocas sequenciais entre contrações e expansões mensais. No caso do varejo ampliado, a base comparativa ainda ajuda; no acumulado em 12 meses, a expansão acelerou para +1,8% (tabela 1). Mas, se olharmos com atenção para o comportamento da série em nível, com ajuste sazonal, veremos que há sinais mais claros de redução do momentum (gráfico 1).

Em conclusão, a bateria de dados de alta frequência de outubro indica que a economia perde gás no início do 4º trimestre de 2023, com sinais mais negativos emergindo do consumo de bens e, principalmente, do consumo de serviços (gráfico 2). Tal comportamento está alinhado às nossas expectativas de redução do ímpeto da economia na virada do ano, levando a uma desaceleração do crescimento adiante. Seguimos estimando crescimento do PIB de +2,9% em 2023 e de +1,3% em 2024, e permanecemos “curiosos” quanto à atuação do governo no ano que vem, em meio às eleições municipais e a uma redução da velocidade de expansão da atividade.

Tabela 1: Pesquisa mensal do comércio (PMC)

Gráfico 1: Vendas no varejo (dez/19=100, ajustado sazonalmente)

Gráfico 2: Indicadores de atividade em alta frequência (dez/19=100, série ajustada sazonalmente)