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Vendas no varejo (set/23): No Brasil, até o passado é incerto

Bottom line: Os resultados do varejo de setembro surpreenderam positivamente, mas com enormes mudanças, para pior, na série histórica do varejo ampliado. Haverá impacto em nossas projeções de crescimento, com reavaliação quando a bateria de dados de setembro estiver completa.

As vendas no varejo restrito avançaram +0,6% em setembro, desempenho consistente com uma expansão interanual de +3,3%. Pelo quarto mês consecutivo, os resultados foram superiores ao esperado pelo mercado (respectivamente em 0,0% e +2,5%), mantendo a expansão acumulada em 12 meses em +1,7% (tabela 1). O resultado mensal confirmou a força das vendas em supermercados e de artigos farmacêuticos, com recuperação de “móveis e eletrodomésticos” depois de uma fraca leitura em agosto. Todas as outras categorias do varejo restrito registraram contração mensal, em sinal de baixa robustez do resultado. Em nível, ajustado sazonalmente, o varejo restrito segue avançando suavemente (gráfico 1).

A grande questão desta divulgação ocorreu no varejo ampliado – e não exatamente no resultado mensal. Falando primeiramente de setembro, houve uma expansão na margem de +0,2%, consistente com expansão interanual de +2,9%. Ambos os resultados foram superiores ao esperado pelo mercado (respectivamente 0,0% e +2,7%), ampliando a expansão acumulada em 12 meses para +1,6% (tabela 1). Note-se, no entanto, que as principais categorias do varejo ampliado registraram fraco desempenho mensal, com contração marginal das vendas em automóveis e construção civil.

Ainda mais relevante, houve uma sensível revisão da série histórica (gráfico 2), implicando em enorme redução do crescimento observado durante o primeiro semestre do ano. A imensa parte da mudança esteve concentrada no setor de “atacarejo”, que somente há pouco passou a fazer parte das estatísticas de varejo compiladas pelo IBGE. Assim, mudou a dinâmica relativa entre varejo ampliado e varejo restrito, com o primeiro passando a operar sistematicamente abaixo do segundo desde meados do primeiro semestre (gráfico 1).

Em conclusão, as revisões da série histórica do varejo ampliado exigirão atualizações em nossos modelos de projeção de PIB, contando uma história levemente distinta da divulgada nos últimos meses. Esperaremos a divulgação dos dados de volume de serviços (na semana que vem) para reavaliar o nosso cenário. Por enquanto, a projeção de crescimento do PIB em 2023 segue em +3,0%.

Tabela 1: Pesquisa mensal do comércio (PMC)

Gráfico 1: Vendas no varejo (dez/19=100, ajustado sazonalmente)

Gráfico 2: Revisão do varejo ampliado (crescimento interanual)