BRCG

Brasil | 2023 em cinco (longos) parágrafos

DESTAQUE BRCG | Brasil

2023 em cinco (longos) parágrafos

Livio Ribeiro (livio.ribeiro@brcg.com.br)

25/01/2023

Bottom line: A falta de coordenação entre as políticas fiscal e monetária será um grande desafio neste governo. Não vemos espaço para cortes da taxa Selic em 2023, e, mesmo assim, não esperamos que a meta de inflação seja cumprida no horizonte relevante da política monetária. A economia tende a crescer pouco em 2023, o que amplia o risco de ativismo governamental. Seguimos presos em uma armadilha de ineficiência e baixo crescimento.

As incertezas externas são relevantes – e o cenário pode mudar de forma abrupta. Enuncia-se um ano com desaceleração do crescimento global, puxado pela menor expansão das economias desenvolvidas. A política monetária global avançará ainda mais em terreno restritivo, fazendo o (duro) trabalho necessário para promover a convergência inflacionária ao longo do horizonte relevante para a política monetária. Com o fim (bastante atabalhoado) da política de Covid-zero, a China tende a ser vetor positivo para o crescimento global em 2023, com expansão do PIB superior à observada em 2022. A intensidade da retomada chinesa segue em aberto, com duas correntes de pensamento que diferem no comportamento cíclico do consumo privado e na importância das restrições sanitárias para a postura defensiva dos consumidores que foi observada após a eclosão da Covid – não é claro qual será o real impacto do abandono da política de Covid-zero sobre o consumo das famílias chinesas.

No Brasil, a mudança de governo veio acompanhada de novas diretrizes econômicas – com preferência revelada por expansão dos gastos públicos. A agenda social ganha renovado protagonismo, mas vem acompanhada de uma narrativa – em nossa visão equivocada – que contrapõe responsabilidade social e gestão responsável do Erário. Os primeiros sinais do governo, alguns até anteriores à posse, indicam uma clara predisposição ao aumento dos gastos, sem clara compensação do lado das receitas. O Teto dos Gastos será substituído por outra regra fiscal, e o resultado das “Medidas de Recuperação Fiscal” é absolutamente incerto. O governo sugere disposição em avançar na reforma tributária, tendo como provável resultado um aumento da carga líquida de impostos. A agenda de eficiência, com racionalização dos dispêndios e avaliação criteriosa de políticas públicas, está ficando em 2º plano.

A falta de coordenação entre as políticas fiscal e monetária será um grande desafio neste governo. Com importante ajuste monetário prévio e com um mundo, em condições normais, liquidamente desinflacionário, muitos analistas esperavam um relevante ciclo de redução da taxa Selic em 2023. Sempre tivemos a opinião de que as dúvidas de coordenação entre as políticas monetária e fiscal seriam muito maiores do que o mercado imaginava, exigindo a manutenção dos juros estáveis em 13,75%a.a.a até o fim deste ano. Os eventos e sinalizações recentes sugerem que o nosso cenário, não-consensual há alguns meses, está se tornando o central. Temos ressalvas quanto à necessidade de elevação dos juros em 2023, como já defendem alguns, mas estamos mais convictos de que o espaço para cortes de juros só aparecerá em 2024.

A inflação ficará acima da meta durante todo o horizonte relevante. Mesmo com taxa Selic em terreno restritivo, esperamos uma lenta convergência da inflação às metas. Projetamos IPCA de 4,7% em 2023 e de 3,4% em 2024, com a taxa Selic caindo para 11,50% no decorrer do ano que vem. Intervenções nos preços (especialmente de bens administrados) e medidas de natureza fiscal (como a manutenção de desonerações tributárias) tornam a avaliação do cenário particularmente difícil – efeitos positivos sobre a inflação de curto prazo podem ser anulados, a médio prazo, por uma piora na percepção de disciplina fiscal, levando à desancoragem das expectativas de inflação.

Constrói-se um cenário de parco crescimento, o que amplia a probabilidade de “ativismo governamental”. Esperamos crescimento do PIB de somente 0,6% em 2023, refletindo a política monetária restritiva e a transição de prioridades do governo durante este ano. As políticas fiscais expansionistas tendem a maximizar o crescimento da absorção interna, o que não necessariamente se converterá em expansão do PIB. Os desafios estruturais da economia brasileira seguem relevantes, com baixa produtividade e competitividade. As políticas públicas sinalizadas não atacam os fatores determinantes de nosso pouco dinamismo, e, a depender do que for feito, podem reforçar nossa mediocridade. Seguimos presos em uma armadilha de ineficiência e baixo crescimento.

 

DISCLAIMER

Este relatório foi produzido pela BRCG utilizando dados públicos compilados até 24 de janeiro de 2023 e possui caráter meramente informativo. O relatório é destinado a clientes e investidores institucionais, não podendo a BRCG e/ou os seus analistas serem responsabilizados por quaisquer perdas, diretas ou indiretas, derivadas de sua utilização. Este relatório não pode ser reproduzido, distribuído ou publicado por qualquer pessoa ou instituição, para quaisquer fins, sem a estrita autorização da BRCG.