20/01/2021
O Banco Central manteve a taxa Selic em 2,00%a.a., como amplamente esperado, mas implementou mudanças muito relevantes na sua avaliação do cenário e na sinalização da sua atuação futura. No conjunto da obra, é um comunicado bastante duro, suprimindo o forward guidance (o que era esperado) e indicando que o processo de normalização de juros pode começar muito mais cedo do que se supunha.
Revisamos, face à sinalização oficial, nosso call de Selic terminal de 2021 para 3,00%a.a. (antes: 2,50%a.a.) e para 3,75%a.a. (antes: 3,50%a.a.) em 2022, com início da normalização monetária no segundo semestre do ano. Ressaltamos, no entanto, que o tom do comunicado nos sugere que o Banco Central pensa em começar a subir os juros antes disso. E subir mais do que vemos, neste momento, como adequado.
- No cenário externo, o Banco Central reconhece que o curto prazo tem sido mais desafiador com a piora da questão sanitária, mas vê recuperação sólida (antes: normalização) da atividade no médio prazo.
- Na atividade doméstica, entende que a melhora no 2020.T4 não incorpora o recrudescimento da Covid na largada de 2021, mas passa a concentrar a elevada incerteza no primeiro trimestre (antes: a partir do final do ano).
- A inflação de curto prazo será mais elevada, culpa da aceleração dos preços internacionais de commodities afetando alimentos e combustíveis. O choque continua sendo visto como temporário, mas é mais persistente.
- As medidas de inflação subjacente são descritas como acima do intervalo compatível com as metas de inflação, o que é chocante: a média dos núcleos se encontra em 2,8% em 12 meses e a medida de núcleo mais elevada (dupla ponderação) está em 3,1%.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.
Por um lado, o nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado, notadamente quando essa ociosidade está concentrada no setor de serviços. Esse risco se intensifica caso uma reversão mais lenta dos efeitos da pandemia prolongue o ambiente de elevada incerteza e de aumento da poupança precaucional.
Por outro lado, um prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia que piore a trajetória fiscal do país, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco. O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.
O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica de juros em 2,00% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui os anos o ano-calendário de 2021 e, principalmente, o de 2022.
(6) Próximos passos: Como sugerido no comunicado anterior e “confirmado” pelo tom das comunicações posteriores, o Banco Central suprimiu o forward guidance. A política monetária, portanto, volta a ser feita considerando estritamente as projeções condicionais, as expectativas e o balanço de riscos. Reparem, no entanto, que, ao falar que não há relação mecânica entre o fim do forward guidance e a elevação de juros, o Banco Central diz que a conjuntura econômica continua a prescrever, NESTE MOMENTO, estímulo extraordinário. Mais um sinal de que pretende começar ajustes bem mais cedo do que se pensava…
O Comitê considera adequadoSegundo o atual nível extraordinariamente elevado de estímulo monetário que vem sendo produzido pela manutenção da taxa básica de juros em 2,00% a.a. e pelo forward guidance adotado em sua 232ª reunião, segundo o qual o Copom não pretende reduzirreduziria o grau de estímulo monetário desde que determinadas condições sejamfossem satisfeitas. OEm vista das novas informações, o Copom avalia que essas condições seguem satisfeitas. Apesar da elevação desde a última reunião, em particular para o ano de 2021,deixaram de ser satisfeitas já que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, permanecem abaixoestão suficientemente próximas da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária; o regime fiscal não foi alterado; e as expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas.
O Copom avalia que, desde a adoção do. Como consequência, o forward guidance, observou-se uma reversão da tendência de queda das expectativas de inflação em relação às metas para o horizonte relevante. Além disso, ao longo dos próximos meses, o ano-calendário de 2021 perderá relevância em detrimento ao de 2022, que está com projeções e expectativas de inflação em torno da meta. A manutenção desse cenário de convergência da inflação sugere que, em breve, as condições para a manutençãodeixa de existir e a condução da política monetária seguirá, doravante, a análise usual do balanço de riscos para a inflação prospectiva.
O Comitê reitera que o fim do forward guidance podem não mais ser satisfeitas, o que não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros pois a conjuntura econômica continua a prescrever, neste momento, estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade. No cenário de retirada do forward guidance, a condução da política monetária seguirá o receituário do regime de metas para a inflação, baseado na análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos