16/06/2021
Bottom line: O Banco Central elevou a taxa Selic em 75bps na reunião de junho, como amplamente esperado e sinalizado, levando-a a 4,25%a.a. Houve abandono da sinalização de normalização parcial da Selic, indicando juros de 6,25%a.a. ao fim de 2021, em cenário de revisão positiva do crescimento e de maior pressão inflacionária, seja em termos quantitativos – inflação fora da banda de tolerância em 2021 – seja em termos qualitativos – mais persistência da inflação, multiplicidade de choques, preocupação com a aceleração futura dos preços de serviços, núcleos acima do consistente com o cumprimento da meta, expectativas FOCUS divergentes e balanço de riscos assimétrico. O Banco Central antecipa mais uma elevação de 75bps na reunião de agosto, deixando a porta aberta para um movimento mais intenso em caso de deterioração adicional das expectativas, e, eventualmente, pode levar a Selic a terreno restritivo já em 2021. Mantemos o nosso call de elevação da Selic, em ciclo contínuo, para 6,50% até dez/2021 e para 7,50%a.a. até mar/2022. Esse orçamento total pode ser antecipado, começando com um ajuste de 100bps na próxima reunião. O Banco Central precisa ajustar a sua comunicação para não perder o controle das expectativas inflacionárias e da precificação dos juros de mercado.
(5) Balanço de riscos e decisão: O balanço de riscos muda de forma relevante. Do lado positivo para a inflação, a assimetria migra para uma eventual reversão, mesmo que parcial, dos preços de commodities em reais – abandonando, portanto, qualquer narrativa de ociosidade. Do lado negativo, a assimetria continua nos estímulos fiscais, concentrando-se nos seus efeitos sobre a demanda agregada – abandonando a narrativa de frustrações com reformas e minimizando a recente melhora da dívida/PIB. O balanço de riscos continua negativo, devido ao risco fiscal. Como antecipado, elevação de 75bps, já mirando somente 2022 e sem prejudicar os objetivos secundários de suavização do ciclo e maximização do pleno emprego.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.
Por um lado, o processo de recuperação econômica dos efeitos da pandemia pode ser mais lento do uma possível reversão, ainda que o estimado, produzindoparcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do esperadocenário básico.
Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal do país, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem pressionar ainda maiselevar os prêmios de risco do país. OApesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.
O Copom reitera que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, para 3,504,25% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2022. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de estabilizaçãoassegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego
(6) Próximos passos: Em linha com o tom do comunicado, abandono da ideia de normalização parcial e ajuste à neutralidade para evitar a disseminação dos choques (aqui ditos temporários). O Comitê, no entanto, deixa a porta aberta para elevação além do neutro. Para a reunião de agosto, antecipa um novo ajuste de 75bps, mas deixa a porta aberta para uma elevação ainda maior se as expectativas de inflação continuarem a deteriorar. Com isso, consideramos muito provável que o mercado ajuste as suas expectativas para uma elevação de 100bps na reunião de agosto.
Neste momento, o cenário básico do Copom indica ser apropriada umaa normalização parcial da taxa de juros, com a manutenção de algum estímulo monetário ao longo do processo de recuperação econômica. para patamar considerado neutro. Esse ajuste é necessário para mitigar a disseminação dos atuais choques temporários sobre a inflação. O comitêComitê enfatiza, entretantonovamente, que não há compromisso com essa posição e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação.
Para a próxima reunião, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização parcial do estímulo monetáriomonetária com outro ajuste da mesma magnitude. O CopomContudo, uma deterioração das expectativas de inflação para o horizonte relevante pode exigir uma redução mais tempestiva dos estímulos monetários. O Comitê ressalta que essa visão continuará dependendoavaliação também dependerá da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e dasde como esses fatores afetam as projeções e expectativas de inflação.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza