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Decisão de política monetária – Comunicado do COPOM (dez/23): Confortável com a estratégia

Bottom line: O Banco Central reduziu a taxa de juros em 50bps na reunião de dezembro, como amplamente esperado, encerrando 2023 em 11,75%a.a. O Comunicado sugere um Comitê confortável com a sua estratégia de cortes, a uma velocidade de 50bps por reunião, pelo menos até o fim do 1º trimestre.

Em linha com a unânime expectativa do mercado, o Banco Central reduziu a taxa Selic em 50bps na sua reunião de dezembro, encerrando 2023 em 11,75%a.a. Sem dúvidas sobre a decisão numérica, o debate se concentrava em mudanças na sinalização prospectiva. Uma certeza estava na mudança da tipificação do cenário internacional, que seria, ao menos, tipificado como menos adverso. A grande questão estava nas projeções condicionais, e de que forma o COPOM iria incorporar a dinâmica inflacionária recente, relativamente benigna, à avaliação do cenário.

Aqueles que esperavam uma guinada mais dovish certamente saíram frustrados (nós não estávamos nesse grupo). Ainda que tenha ocorrido uma mudança de tom na avaliação da inflação subjacente (de “acima da meta” para “aproximando-se da meta”), continuou-se com uma avaliação geral do cenário equilibrada e cautelosa. O balanço de riscos foi estritamente o mesmo e as projeções condicionais foram ajustadas para o biênio 2023-2024 devido à redução dos preços administrados; a projeção condicional de 2025 continuou em 3,2%, levemente acima da meta.

Isso posto, o COPOM continua indicando enorme conforto com a sua estratégia prospectiva, sinalizando cortes de 50bps nas próximas reuniões – ou seja, manutenção da velocidade até, pelo menos, a reunião de março. Parece-nos uma estratégia perfeitamente adequada ao cenário condicional do Comitê, que, não custa lembrar, achamos excessivamente benigno ao longo de todo o horizonte relevante. Se, no entanto, trabalharmos com o objetivo de “inflação na banda”, ao invés de “inflação na meta”, o cenário de referência de juros (9,25%a.a. em 2024 e 8,75%a.a. em 2025) parece ser factível.

Em conclusão, seguimos esperando Selic terminal de 9,00% em 2024, a ser atingida no 3º trimestre do ano que vem, com sucessivos movimentos de 50bps sendo concluídos por um corte final de 25bps. Com esse cenário de taxa Selic, projetamos IPCA de +4,2% tanto em 2024 como em 2025.

Mais detalhes seguem abaixo. Como sempre, texto anterior em vermelho e novo texto sublinhado, com grifos onde julgamos relevante.

(1) Cenário externo: Como esperado, a avaliação do cenário externo melhora em relação ao COPOM anterior, sendo agora menos adverso. Não se foi a extremo de defini-lo como benigno, tal como defendido por alguns, mas ressalta-se sinais incipientes de recuo na inflação subjacente. Cautela segue dando o tom.

O ambiente externo segue volátil e mostra-se menos adverso, em função da elevação do que na reunião anterior, marcado pelo arrefecimento das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos, da resiliência e de sinais incipientes de queda dos núcleos de inflação, que ainda permanecem em níveis ainda elevados em diversos países e de novas tensões geopolíticas. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário exige atenção e segue exigindo cautela por parte de países emergentes

(2) Atividade doméstica: Sem quaisquer mudanças no cenário de atividade.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres antecipado pelo Copom.

(3) Inflação e expectativas: Mudança importante na tipificação da inflação subjacente, que tem se aproximado da meta e deixa de ser definida como “acima da meta”. Expectativas de mercado praticamente não se mexeram.

A inflação cheia ao consumidor, conforme esperado, manteve trajetória de desinflação, mas segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta de inflação, enquanto destaque para as medidas mais recentes de inflação subjacente ainda, que se situam acima aproximam da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,5% 4,6%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.

(4) Projeções condicionais: Mínima redução das projeções condicionais em 2023 e em 2024, associada essencialmente à revisão das projeções de administrados. Note-se que as projeções foram feitas com taxa de câmbio levemente mais apreciada (R$ 4,90/US$ vs. R$ 5,00/US$ no COPOM anterior), mantendo os juros terminais de 11,75%a.a. em 2023, 9,25%a.a. em 2024 e de 8,75%a.a. em 2025. Sem mudanças relevantes no cenário…

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 4,6%4,7 em 2023, 3,5%,3,6 em 2024 e 3,2% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 9,1%9,3 em 2023, 4,5%5,0 em 2024 e 3,6% em 2025

(5) Balanço de riscos e decisão: Não há nenhuma mudança relevante no balanço de riscos, nisso mantendo as menções à incerteza externa e à necessidade de se entregar as metas fiscais estabelecidas (o que todos sabem que ocorrerá com probabilidade muito baixa).

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que a conjuntura, em particular devido ao cenário internacional, é mais segue incerta do que o usual e exige cautela na condução da política monetária.

Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas.

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 12,25 11,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

(6) Próximos passos: O Comitê manteve a exata narrativa do último Comunicado, com tom “relativamente cauteloso” associado à sinalização de ritmo de 50bps nas próximas reuniões (ou seja, já falando de mar/24). A sinalização está perfeitamente alinhada ao nosso cenário de ritmo de 50bps “até onde a vista não alcança”.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Gabriel Muricca Galípolo, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes.