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Decisão de política monetária – Comunicado do COPOM (jan/24): Menos é mais

Bottom line: O Banco Central reduziu a taxa de juros em 50bps na reunião de janeiro, como amplamente esperado, trazendo a Selic para 11,25%a.a. Foram mínimos os ajustes feitos pela autoridade monetária, que segue vendo o ritmo atual de cortes de juros como adequado. Esperamos que a Selic atinja 9,00%a.a. no terceiro trimestre, permanecendo neste patamar até o fim do ano que vem.

 

Em linha com a unânime expectativa do mercado, o Banco Central reduziu a taxa Selic em 50bps nesta reunião, trazendo a taxa de juros para 11,25%a.a. De maneira geral, foi um Comunicado bastante lacônico, repetindo a imensa parte das sinalizações prévias. De novidade, e na direção dovish, deixou-se de descrever o cenário externo como adverso, ainda que siga sendo tratado como volátil. O debate sobre o início da flexibilização monetária nas economias desenvolvidas foi destacado, dando um tom mais suave aos "ventos externos".

 

Como esperávamos, não houve mudanças no balanço de riscos e nem nas projeções condicionais (mesmo que, nestas, tenha ocorrido um mínimo ajuste de composição). O cenário relevante passa a ser, em maior grau, a projeção de inflação de 2025 - e ela se encontra, pelo modelo oficial, um pouco acima da meta (3,2%). Também de acordo com nossas expectativas, o "forward guidance" de ritmo de cortes seguiu o mesmo, sinalizando, pelo menos, mais duas reduções consecutivas de 50bps na taxa básica de juros da economia.

 

Em conclusão, não vemos qualquer razão para mudar as nossas projeções. Esperamos a manutenção do ritmo de cortes de 50bps por grande parte do ano, entregando uma Selic terminal de 9,00% no terceiro trimestre (4 cortes de 50bps e um corte final de 25bps). Com esse patamar de juros, mantido até o final de 2025, não enxergamos cumprimento da meta de inflação no horizonte relevante, mas, tampouco, infração do regime de metas.

 

Mais detalhes seguem abaixo. Como sempre, texto anterior em vermelho e novo texto sublinhado, com grifos onde julgamos relevante.

 

(1) Cenário externo: Única mudança relevante do Comunicado. Cenário segue volátil, mas deixa de ser descrito como adverso. Deu-se foco ao início do debate sobre flexibilização monetária nas economias desenvolvidas. Causa certa surpresa que as questões geopolíticas recentes não tenham sido abordadas, o que deve ocorrer nas Minutas.

 

O ambiente externo segue volátil e mostra-se menos adverso do que na reunião anteriormarcado pelo arrefecimento das taxasdebate sobre o início da flexibilização de juros de prazos mais longos nos Estados Unidospolítica monetária nas principais economias e depor sinais incipientes de queda dos núcleos de inflação, que ainda permanecem em níveis elevados em diversos países.  Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

 

(2) Atividade doméstica: Sem quaisquer mudanças no cenário de atividade. 

 

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia antecipado pelo Copom.

 

(3) Inflação e expectativas: Sem quaisquer mudanças na tipificação do cenário, com mínimo ajuste nas expectativas Focus de 2024.

 

A inflação cheia ao consumidor, conforme esperado, manteve trajetória de desinflação, com destaque paraassim como as medidas de inflação subjacente, que se aproximam da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

 

As expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,5%, 3,93,8% e 3,5%, respectivamente.

 

(4) Projeções condicionais: Como esperado, projeções condicionais de 2024 e 2025 se mantiveram. É importante notar que houve marginalmente aumento da projeção de preços livres em 2024, devido ao recuo da projeção de administrados, com compensação equivalente em 2025. Nada relevante para o cenário.

 

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 4,6% em 2023, 3,5% em 2024 e 3,2% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 9,1% em 2023, 4,54,2% em 2024 e 3,63,8% em 2025

 

(5) Balanço de riscos e decisão: Estritamente igual ao anterior. A opção por não reforçar o debate fiscal provavelmente advém do atraso na divulgação do resultado medido pelo BCB. Note-se, no entanto, que o horizonte relevante começa a migrar para 2025, o que é natural neste momento do ciclo monetário.

 

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.  O Comitê avalia que a conjuntura, em particular devido ao cenário internacional, segue incerta e exige cautela na condução da política monetária.

 

Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e,consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas.

 

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 11,7511,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau maior, o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

 

(6) Próximos passos: O Comitê segue confortável com o cenário, e sinaliza a manutenção do ritmo de 50bps de cortes nas próximas reuniões (pelo menos mais duas).

 

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

 

Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos

 

Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry GuillenFernanda Magalhães Rumenos Guardado, Gabriel Muricca GalípoloMaurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo PicchettiRenato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira