Bottom line: O Banco Central reduziu a taxa de juros em 50bps na reunião de março, trazendo a Selic para 10,75%a.a. Foram feitos ajustes na comunicação, encurtando o “compromisso” com o ritmo de cortes de juros para somente uma reunião. O Comitê quer se dar mais liberdade para avaliar seus movimentos ponto-a-ponto, o que é perfeitamente razoável no atual estágio do ciclo monetário. Seguimos com Selic terminal de 9,00%a.a., a ser atingida até a reunião de setembro.
Referendando a unânime expectativa do mercado, o Banco Central reduziu a taxa Selic em 50bps nesta reunião, trazendo a taxa de juros para 10,75%a.a. A discussão central estava na modificação do forward guidance de cortes de juros para duas reuniões consecutivas, que vinha sendo utilizado nos últimos meses. Havia três opções possíveis, com a sua manutenção, a sua supressão total ou a escolha de um caminho intermediário, encurtando o “compromisso” para somente uma reunião ou circunscrevendo o “compromisso duplo” a este momento. Ajustes recentes na comunicação de membros do Comitê indicavam menor probabilidade de manutenção do forward guidance “original”, ainda que não fosse claro qual seria a mudança a ser implementada. De uma forma ou de outra, qualquer das opções não nos parecia um equívoco, refletindo apenas preferências do Comitê neste ponto do ciclo monetário.
Em linhas gerais, o Comunicado foi bastante parecido com o da reunião anterior, nisso incluindo as mesmas projeções condicionais e o mesmo balanço de riscos. Houve, no entanto, três ajustes na comunicação, todos eles na direção hawkish. Em primeiro lugar, a inflação subjacente voltou a ser definida como “acima da meta”, mesmo que, em média, tenha se reduzido no acumulado dos últimos 12 meses. Em segundo lugar, definiu-se que as conjunturas doméstica e internacional estão mais incertas, mesmo com manutenção do balanço de riscos. Por fim, a maior incerteza demanda mais flexibilidade na condução da política monetária, e, com isso, o forward guidance de ritmo de cortes de juros só é válido para a próxima reunião (início de maio).
É importante ter clareza de que a mudança no forward guidance não significa que há somente mais um corte de juros contratado pelo Comitê. De forma alternativa, também não significa que o ritmo de cortes será necessariamente reduzido (para 25bps ou para zero) a partir da reunião do COPOM de junho (daqui a duas reuniões). Deliberadamente, os membros do Comitê querem se dar mais liberdade para avaliar os seus movimentos, ponto-a-ponto, reduzindo amarras e compromissos. Isso é perfeitamente razoável ao nos aproximarmos do fim do ciclo de ajuste monetário, o que, em nossa visão, deve ocorrer durante o 3º trimestre.
Não vemos razão para modificar o nosso call; seguimos esperando que os cortes de juros ocorram até a reunião de setembro, atingindo uma taxa terminal de 9,00%a.a. em 2024. Esperamos que este patamar seja mantido até o final do ano que vem.
Mais detalhes seguem abaixo. Como sempre, texto anterior em vermelho e novo texto sublinhado, com grifos onde julgamos relevante.
(1) Cenário externo: Pequenos ajustes na mensagem, sem modificar o tom geral do comunicado anterior. Cenário eterno segue volátil e com debates tanto sobre a flexibilização monetária nos países desenvolvidos como sobre a queda sustentada da inflação. Cenário exige cautela por parte dos emergentes.
O ambiente externo segue volátil, marcado pelo debate pelos debates sobre o início da flexibilização de política monetária nas principais economias e por sinais de a velocidade com que se observará a queda dos núcleos de da inflação, que ainda permanecem em níveis elevados de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
(2) Atividade doméstica: Sem quaisquer mudanças no cenário de atividade.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia antecipado pelo Copom.
(3) Inflação e expectativas: Primeiro ajuste hawkish, definindo as medidas de inflação subjacente como acima da meta de inflação nas divulgações mais recentes.
A inflação cheia ao consumidor, conforme esperado, manteve trajetória de desinflação, assim como enquanto as medidas de inflação subjacente, que se aproximam situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes
As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,8% e 3,5%, respectivamente
(4) Projeções condicionais: Manutenção das projeções condicionais tanto em 2024 como em 2025, nisso destacando estar acima da meta no ano que vem. Não há mudanças substanciais na avaliação da distribuição entre preços administrados e preços livres.
As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 3,5% em 2024 e 3,2% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,4% 4,2% em 2024 e 3,9% 3,8% em 2025.
(5) Balanço de riscos e decisão: Mesmo balanço de riscos das últimas reuniões. Mesmo assim, segundo ajuste hawkish da comunicação ao dizer que as conjunturas doméstica e internacional estão mais incertas. Redução dos juros em 50bps, como esperado.
O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que a conjuntura, em particular devido ao cenário as conjunturas doméstica e internacional, segue incerta e exige estão mais incertas, exigindo cautela na condução da política monetária
Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e,consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas.
Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 11,25% 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau maior, o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego
(6) Próximos passos: Terceiro ajuste hawkish, com mudança no forward guidance e fim do “passo duplo”. A elevação da incerteza exige mais flexibilidade na condução da política monetária, e o forward guidance de redução do ritmo de 50bps só é válido para a próxima reunião. A supressão da sinalização de duas reuniões não é garantia de que o ritmo será modificado a partir de junho, nem sinalização de que o ciclo de afrouxamento monetário terminará em meados do ano.
A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
Em se confirmando o cenário esperado, O Comitê avalia que o cenário-base não se alterou substancialmente. Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem , em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse na próxima reunião. O Comitê avalia que essa é o ritmo apropriado a condução apropriada para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.
O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.