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PIB Brasil (2022): Crescimento de 2,9%. E início da descida…

02/03/2023

Bottom line: O PIB do quarto trimestre de 2022 registrou expansão interanual de 1,9%, consistente com contração marginal (sobre o trimestre anterior, ajustado sazonalmente) de -0,2%. O resultado foi inferior ao esperado pelo mercado, levando o crescimento do PIB de 2022 a 2,9%. Marcou-se o início de uma longa descida no crescimento; esperamos expansão do PIB de 0,4% em 2023 e de 0,7% em 2024.


O PIB do 2022.T4 registrou expansão interanual de +1,9%, consistente com contração na margem (frente ao trimestre anterior, na série livre de influências sazonais) de -0,2% TsT. O resultado foi inferior à mediana das projeções de mercado (+2,2% interanual) e à nossa projeção, levemente mais negativa (+2,1%). Em 2022, o PIB cresceu 2,9% (tabela 1), com o segundo ano consecutivo de expansão superior, em nossa opinião, à capacidade de crescimento potencial da economia.
Tal como ocorrido em 2021, o crescimento de 2022 foi puxado principalmente pelo bom desempenho dos serviços (gráfico 1), com contribuições marginais das outras componentes da oferta. O corolário, na demanda, é que o consumo (público e privado) dominou a dinâmica do PIB. Note-se, também, que a contribuição do setor externo foi positiva, com crescimento das exportações superior ao das importações. Os vetores de crescimento devem ser aproximadamente os mesmos em 2023, com potência inferior: a expansão do PIB entrará em trajetória descendente, fato que, por sinal, já começou ao final do ano passado, com contração da economia no último trimestre do ano (gráfico 2).
Voltando ao resultado do PIB no último trimestre do ano, a surpresa em relação aos nossos números veio, na oferta, da agricultura (recuo bem maior do que imaginávamos), sendo parcialmente contraposta por uma expansão mais intensa da indústria (tabela 1). Tivemos desvios no desempenho estimado para a transformação, mas isso não explica o erro de projeção da indústria; implicitamente, tivemos mais uma rodada de surpresa na construção civil, cujo desempenho continua sendo, em nossa visão, muito difícil de antecipar. O forte desempenho das utilidades públicas também parece ter contribuído para o nosso erro de projeção neste ano.
Passando à demanda, a distribuição do resultado foi um tanto distinta do que esperávamos. Observamos um patamar de consumo agregado relativamente alinhado às nossas projeções, mas com composição distinta – mais consumo privado e menos consumo público (tabela 1). Os investimentos foram levemente inferiores ao que esperávamos, ainda que dentro da margem de erro dos modelos, valendo comentário oposto, e também na margem de erro, para as exportações. A grande surpresa foi o comportamento das importações, sensivelmente superiores ao que esperávamos.
Os resultados de 2022 e a atualização de nossos modelos levaram a pequenas revisões em nosso cenário prospectivo. Com carregamento estatístico levemente inferior e ajustes na modelagem da indústria, passamos a projetar o crescimento do PIB de 2023 em 0,4% (anterior: 0,5%). Já para 2024, nossa projeção foi reduzida para 0,7% (anterior: 0,9%), no esteio de restrição monetária mais prolongada e dificuldade de dinamização da oferta na economia. 
A atual administração indica, de maneira clara, uma preferência pela maximização da absorção interna (consumo e investimento), o que, se não traduzido em aumento da oferta doméstica, implicará em maior déficit em conta corrente e contribuição mais negativa do setor externo para um determinado nível de crescimento do PIB. Estamos cada vez mais convictos de que esse será o cenário, especialmente em 2024.
Tabela 1: Crescimento do PIB (Principais aberturas, observado vs. projeções BRCG)
 
 
Gráfico 1: PIB anual (contribuições para o crescimento, ótica da oferta)
 
 
Gráfico 2: Nível do PIB (ajustado sazonalmente, dez/19=100)