BRCG

PIB Brasil (2022.T2): Sob efeito de anabolizantes

01/09/2022

Bottom line: O PIB do segundo trimestre de 2022 registrou expansão interanual de +3,2%, consistente com crescimento marginal (sobre o trimestre anterior, ajustado sazonalmente) de +1,2%. O resultado foi superior ao esperado. Sob efeito de anabolizantes de renda e retomada cíclica em certos setores, revisamos a nossa projeção de crescimento em 2022 para +2,2% – e reconhecemos certo viés de alta para este número. A nossa projeção de 2023 oscilou para +0,1%. Com uma multiplicidade de choques em operação, a incerteza prospectiva segue maior do que o usual.


O PIB do 2022.T2 registrou expansão interanual de +3,2% AsA, consistente com crescimento na margem (frente ao trimestre anterior, na série livre de influências sazonais) de +1,2% TsT. No acumulado em 12 meses, o crescimento do PIB recuou para +2,6% (tabela 1). Os resultados foram superiores à mediana de mercado e à nossa projeção (respectivamente, +2,8% AsA e +2,4% AsA). 
Após frustração no início do ano, quando o resultado do PIB (crescimento de +1,7% AsA) veio próximo ao nosso call abaixo do consenso, agora tivemos movimento importante na direção contrária – e que, certamente, alimentará revisões positivas para s projeções de atividade em 2022. A aceleração sequencial da economia fica evidente no comportamento da série em nível (ajustado sazonalmente), com retomada relevante desde o final do ano passado (gráfico 1). Não é um movimento estrutural, sendo muito afetado pela reabertura cíclica (nos serviços) e por “anabolizantes de renda”; não muda o fato, no entanto, de que esses vetores seguirão em operação (em maior ou menor grau) na segunda metade do ano, dando claro viés positivo para a atividade adiante.
O desempenho geral de nossos modelos não foi bom nesta rodada de divulgação. Pelo lado da oferta (tabela 1), o resultado foi dominado pela expansão dos serviços (+4,5% AsA / +1,3% TsT), reforçando a recuperação cíclica sugerida pelos indicadores de alta frequência. Também fomos surpreendidos pela indústria (+1,9% AsA / +2,2% TsT), com detalhes que sugerem momento robusto, principalmente, na construção civil. Note-se, por fim, que o resultado da agropecuária foi relativamente fraco (-2,5% AsA / +0,5% TsT); o desvio, no entanto, teve pouca contribuição para o resultado agregado do PIB. 
Como espelho do observado na oferta, pelo lado da demanda (tabela 1), todos os indicadores de demanda interna vieram acima do esperado, com destaque para o consumo das famílias (+5,3% AsA / +2,6% TsT) e para os investimentos (+1,5% AsA / + 4,8% TsT) – no caso do último, inclusive sugerindo um desempenho mais consistente com as rubricas equivalentes na oferta (em absorção de máquinas e equipamentos, e edificações) do que o observado nos últimos trimestres. Note-se, por fim, que os indicadores de setor externo tiveram desempenho alinhado ao esperado, com os resultados de exportações (-4,8% AsA / -2,5% TsT) e importações (-1,1% AsA / +7,6% TsT) dentro da margem de erro de seus respectivos modelos.
Em conclusão, a surpresa positiva no trimestre, e, especialmente, a composição dessa surpresa indicam que a atividade terá desempenho mais forte na segunda metade de 2022, no esteio da retomada cíclica em alguns setores (especialmente serviços) e dos anabolizantes de renda concedidos pelo governo, seja em transferências (renda nominal) ou recuo artificial da inflação (renda real). Com isso, as nossas projeções de crescimento foram revistas para cima; estimamos crescimento de +2,2% em 2022 (anterior: +1,6%), reconhecendo que ainda há certo viés de alta para este número. O desempenho de 2023 oscilou para expansão de +0,1% (antes: contração de -0,1%). A incerteza prospectiva continua gigantesca, com uma multiplicidade de choques que tornam a dispersão de cenários maior que o usual.
Tabela 1: Crescimento do PIB (Principais aberturas, observado vs. projeções BRCG)
Gráfico 1: Nível do PIB (ajustado sazonalmente, dez/19=100)