BRCG

PIB Brasil (2023.T1): Food for thought

01/06/2023

Bottom line: O PIB do primeiro trimestre de 2023 registrou expansão interanual de +4,0%, consistente com crescimento marginal (sobre o trimestre anterior, ajustado sazonalmente) de +1,9%. O resultado foi bastante superior ao esperado, com desvio advindo, principalmente, do fantástico e pouco usual crescimento da agropecuária. Ampliamos a projeção de crescimento em 2023 para +1,4% e reduzimos a expansão projetada em 2024 para +0,6%.


O PIB do 2023.T1 registrou crescimento interanual de +4,0%, consistente com uma expansão na margem (frente ao trimestre anterior, na série livre de influências sazonais) de +1,9% TsT. O resultado foi bastante superior à mediana das projeções de mercado (crescimento interanual de +3,1%) e à nossa projeção, levemente mais negativa (+2,8%). No acumulado em 12 meses, o crescimento da economia brasileira avançou para +3,3%, estando, portanto, acima do registrado ao final do ano passado (tabela 1).
É inequívoco que o resultado do PIB foi forte neste início de ano, o que fica ainda mais evidente ao observarmos o comportamento do indicador em nível (ajustado sazonal): ocorreu um salto neste primeiro trimestre, em dinâmica que parece, em princípio, não usual (gráfico 1). De fato, é o que emerge de uma leitura mais fina das componentes do PIB (tabela 1): o desempenho do início de 2023 deve ser visto com enormes ressalvas, refletindo uma conjuntura bastante peculiar.
Pela ótica da oferta (tabela 1), destaca-se o gigantesco crescimento da agropecuária (expansão interanual de +18,8% e crescimento marginal de +21,6%), completamente fora dos padrões usuais e muito acima da nossa projeção. Temos destacado, há algum tempo, que momentos com forte desempenho (positivo ou negativo) da produção agrícola resultam em grande volatilidade do PIB e em menor assertividade das projeções, posto que os indicadores antecedentes disponíveis são limitados e bastante falhos. É exatamente o que ocorreu neste início de ano, sendo um fato a ser considerado, ainda que em menor grau, na avaliação dos trimestres vindouros.
Para além da agropecuária, os desvios observados nas outras componentes da oferta foram moderados. O desempenho da indústria (crescimento interanual de +1,9% e contração marginal de -0,1%) foi melhor do que esperávamos, ainda que tenhamos cravado o desempenho da transformação – implicitamente, o desvio ocorreu na indústria extrativa (por sinal, outro segmento com limitada capacidade. Já os serviços (crescimento interanual de +2,9% e expansão na margem de +0,6%) vieram praticamente em linha com a nossa projeção, ainda que a composição tenha sido um pouco diferente – implicitamente, com mais crescimento relativo dos transportes.
Já pelo lado da demanda (tabela 1), a composição do resultado oficial trouxe um pouco mais de consumo (privado e público) do que imaginávamos, com uma expansão dos investimentos alinhada ao nosso cenário. No setor externo, as exportações foram superiores à nossa estimativa – ainda que na margem de erro de nossos modelos – e o crescimento das importações foi virtualmente alinhado ao nosso cenário. Os comentários feitos pelo lado da demanda são deliberadamente mais breves, porque toda a discussão relevante ocorreu, de fato, do lado da oferta.
Em conclusão, os dados de 2023.T1 levaram a uma revisão da projeção de crescimento do ano. Esperamos agora um crescimento de +1,4% em 2023 (anterior: 1,0%), com virtualmente toda a revisão advindo da agropecuária (para a qual esperamos crescimento de +10,4% neste ano). O PIB ex-agro segue bastante moderado, ainda que com alguma expansão, e prenuncia-se desaceleração adicional adiante. Para 2024, com base comparativa desfavorável e manutenção de uma prolongada desaceleração da economia, passamos a projetar crescimento de somente +0,6%.
Tabela 1: Crescimento do PIB (Principais aberturas, observado vs. projeções BRCG)
 
 
Gráfico 1: Nível do PIB (ajustado sazonalmente, dez/19=100)