BRCG

PIB Brasil (2023.T3): Desaceleração gradual

Bottom line: O PIB do 3º trimestre de 2023 registrou expansão interanual de +2,0%, consistente com crescimento marginal de +0,1%. A economia segue em gradual desaceleração, que deve se intensificar adiante.

O PIB do 3º trimestre de 2023 registrou crescimento interanual de +2,0%, consistente com uma expansão na margem (frente ao trimestre anterior, na série ajustada sazonalmente) de +0,1%. Os resultados foram novamente superiores ao esperado pelo mercado (respectivamente +1,8% e -0,3%), lembrando que, no 3º trimestre do ano, ocorre uma revisão da série histórica que torna a avaliação do desempenho das projeções um tanto injusta. No acumulado em 12 meses, o crescimento da economia brasileira recuou para +3,1%, perdendo ímpeto frente à velocidade (revisada) de +3,7% acumulada nos 12 meses encerrados no 2º trimestre.

As principais aberturas do crescimento podem ser observadas na tabela 1. Pelo lado da oferta, o trimestre foi marcado, na margem, por fraqueza da agropecuária, sendo contraposta por expansões tanto na indústria como nos serviços. Note-se, em específico, a forte contração da construção civil (tanto na margem como na métrica interanual), sugerindo apuros neste setor tão relevante para os investimentos e para a geração de emprego. Ainda que o desempenho de nossos modelos tenha sido bastante razoável (sempre estimamos na métrica interanual), não é razoável tecermos grandes comentários devido à mudança das bases comparativas.

A distribuição do crescimento pela demanda mostrou um trimestre de crescimento robusto no consumo interno, seja público ou privado, combinado a um ciclo de investimentos bastante negativo. Tal comportamento casa com as componentes da oferta mais ligadas aos investimentos (indústria de transformação, em fraqueza prolongada, e construção civil), e respinga, pela ótica da demanda, no fraco desempenho das importações. Não vemos mudanças relevantes no cenário prospectivo, mesmo com o início dos cortes da Selic e a provável descompressão financeira futura.

Por fim, em termos de revisões, a atualização definitiva das Contas Nacionais Anuais para 2021 (tabela 2) mostrou uma economia com menos crescimento na agricultura e nos serviços, tendo como contrapartida, do lado da demanda, em redução da absorção doméstica privada – somente o consumo do governo foi revisto para cima. A despeito de mudanças relativamente profundas na sua composição, o crescimento anual do PIB de 2021 foi revisto marginalmente para baixo, passando de +5,0% para +4,8%.

Já nas Contas Nacionais Trimestrais, a atualização dos resultados de 2022 (tabela 3) mostrou mínimas revisões positivas na agricultura e nos serviços, sendo parcialmente contraposta por pequena revisão negativa na indústria. O crescimento do ano passado oscilou de +2,9% para +3,0%, com distribuição pela demanda que indicou menos consumo das famílias, mas avanço de todas as outras rubricas. Note-se que as mudanças no PIB de 2022 foram bastante moderadas, de forma que nossos modelos precisaram de mínimas adaptações à nova história dos dados.

Em conclusão, o desempenho do PIB no 3º trimestre e a atualização das séries históricas não levaram a mudanças relevantes em nossas projeções. Seguimos estimando expansão da economia de +2,9% em 2023, com desaceleração do crescimento para 1,3% em 2024. A desaceleração é sequencial e gradual, devendo se intensificar adiante. Reconhecemos algum viés de baixa para a projeção do ano que vem, que emana de aparentes frustrações na agropecuária. Eventuais ajustes de nossos números e premissas serão feitos em momento oportuno.

Tabela 1: Crescimento do PIB (Principais aberturas, observado vs. projeções BRCG)

Tabela 2: Revisão definitiva da série histórica anual (2021 – SCN)

Tabela 3: Revisão preliminar da série histórica trimestral (2022 – SCNT)