BRCG

PIB China (2021.T3) e Tracking PIB China (Projeção 2021.T4 – 1ª atualização)

18/10/2021

Bottom line: O PIB chinês cresceu +4,9% AsA (interanual) no 2021.T3, resultado levemente inferior à nossa projeção e à mediana das expectativas de mercado (+5,0% AsA). Na margem, houve crescimento de somente +0,2% TsT, marcando importante redução do dinamismo da economia. A composição do crescimento no 2021.T3 e o balanço de riscos para o curto prazo nos levaram a revisar fortemente nossas projeções. A 1ª atualização do tracking de PIB chinês sugere crescimento de somente +3,7% AsA no 2021.T4, reduzindo a expansão projetada para 2021 a +7,9% e a expansão de 2022 a somente 4,8%.

 
O PIB chinês cresceu +4,9% AsA (interanual) no 2021.T3, resultado levemente inferior à nossa projeção e à mediana das expectativas de mercado (ambas em +5,0% AsA), combinando os efeitos da exaustão da base comparativa interanual favorável e de múltiplos choque negativos observados no trimestre, alguns já tratados (a ressurgência da Covid-delta entre julho e agosto) e outros cuja solução ainda parece distante (o choque regulatório no segmento imobiliário e as dificuldades de fornecimento adequado de energia). Com isso, a taxa de crescimento interanual volta a níveis inferiores ao observado no pré-Covid (gráfico 1), dinâmica que deve se aprofundar no último trimestre de 2021. 
Sempre esperamos que houvesse relevante desaceleração do crescimento na segunda metade do ano, mas a magnitude do ajuste nos surpreendeu. Na margem, houve importante desaceleração do crescimento sequencial para somente +0,2% TsT (frente ao 2o trimestre de 2021, na série livre de influências sazonais), resultado inferior à mediana das expectativas (+0,4% TsT) e que ressalta a grande volatilidade do crescimento durante 2021 (gráfico 2). Ainda mais relevante, ampliou-se o afastamento do PIB dessazonalizado (em nível) do que seria sugerido pela tendência pré-Covid (gráfico 3), indicando evidente redução do ímpeto da economia no 2021.T3.
Como sempre, todas as aberturas dos subsetores da oferta e da demanda ainda não estão disponíveis, inviabilizando, neste momento, análises mais profundas. Sob a ótica da oferta, o crescimento interanual do setor terciário (serviços) continuou sendo superior ao do setor secundário (indústria e construção civil), mas ambos mostraram moderação, com malezas particulares no decorrer do trimestre (gráfico 4). Nos serviços, houve a ressurgência sanitária e ainda há notória dificuldade de dinamizar os consumidores chineses. Já na indústria, a combinação de racionamento de energia, desorganização das cadeias produtivas e choque regulatório no setor imobiliário puniu a atividade setorial no decorrer do trimestre, levando a uma importante perda de dinamismo (gráfico 5). A severidade (absoluta e relativa) do choque no setor secundário fica ainda mais clara ao notarmos que o crescimento observado (+3,6% na métrica interanual) foi o pior da série histórica, excetuando o vale da Covid no 1o trimestre de 2020; pior, inclusive, do que a desaceleração ocorrida durante a Crise Financeira Global de 2008/2009 (gráfico 6).
Com essa combinação de forças, não é surpresa que os serviços tenham reforçado a sua posição relativa como o principal vetor de crescimento da economia chinesa em 2021 (gráfico 7). O espelho dessa composição da oferta se observa perfeitamente na ótica da demanda, na qual o consumo (lembrando que não conseguimos separar as componentes pública e privada) reforça sua liderança como motor de crescimento, em detrimento, principalmente, da contribuição dos investimentos (gráfico 8). Há de se lembrar, no entanto, que a retomada de serviços/consumo enfrenta desafios, com eventuais choques sanitários e uma dificuldade crônica de acelerar o consumo das famílias chinesas. Ainda que sem dados que possam comprovar nossa hipótese, estamos cada vez mais convencidos de que as famílias chinesas aumentaram o seu requisito marginal de poupança, fazendo frente a um cenário mais arriscado e repondo os haveres gastos durante o período mais crítico da pandemia.
Em conclusão, a composição do crescimento no 2021.T3 e o balanço de riscos para o curto prazo nos levaram a revisar, de forma relevante, nossas expectativas de crescimento para o futuro próximo. Ainda que esperemos uma aceleração relativa dos serviços/consumo, entendemos que os choques na indústria, seja na transformação (racionamento e desorganização das cadeias produtivas) ou na construção civil (ajuste regulatório no mercado imobiliário), serão relevantes e suficientemente persistentes. 
Nossa primeira atualização (tabela 1) do tracking de crescimento do PIB chinês para o 2021.T4 (ainda sem utilizar qualquer informação, qualitativa ou quantitativa, do referido trimestre) sugere crescimento interanual de somente +3,7% (anterior: +4,1%). Com isso, nossa projeção de crescimento de 2021 foi reduzida para +7,9% (anterior: +8,1%), implicando em redução de 0,4p.p. no carregamento estatístico para 2022. Nossa projeção preliminar de crescimento para o ano que vem é de 4,8% (anterior: 5,1%), velocidade sensivelmente menor do que a observada nos últimos anos. Todos esses números são menores do que as atuais projeções de mercado (respectivamente +4,1%, +8,2% e +5,5%).
 
Gráfico 1: Crescimento do PIB trimestral (AsA)
Gráfico 2: Crescimento do PIB trimestral (TsT, dessazonalizado)
Gráfico 3: PIB dessazonalizado em nível (dez/2010=100)
Gráfico 4: Ótica da oferta (secundário vs. terciário, AsA)
Gráfico 5: Ótica da oferta (secundário vs. terciário, nível, dez/2019=100)
 
 
Gráfico 6: Crescimento do setor secundário (AsA)
 
 
Gráfico 7: Ótica da oferta (contribuições acumuladas para o crescimento, p.p.)
 
Gráfico 8: Ótica da demanda (contribuições acumuladas para o crescimento, p.p.)
Tabela 1: Tracking PIB China (2021.T4 – 1a atualização)
BRCG: Projeções para o crescimento chinês (2021 e 2022)
out/21nov/21dez/21jan/22
V(1)V(2)V(3)V(4)V(5)V(6)V(7)
2021.T118.318.318.318.318.318.318.3
2021.T27.97.97.97.97.97.97.9
2021.T34.94.94.94.94.94.94.9
2021.T43.7
20217.9
20224.8
Fonte: BRCG
Memo
V(1): somente com defasagens
V(2) / V(4) / V(6): modelos com variáveis (defasadas) macro e financeiras, além de aberturas (defasadas e contemporâneas) dos PMI’s
V(3) / (V5): modelos bottom-up (dados contemporâneos)
V(7): modelo bottom-up com hipóteses para último mês do trimestre