25/10/2022
Bottom line: O PIB chinês cresceu +3,9% interanual no 2022.T3, resultado superior à mediana de mercado e à nossa estimativa. Seguimos céticos quanto à capacidade de forte aceleração do crescimento nos próximos trimestres. A atualização de nosso tracking sugere expansão interanual de +4,6% no 2022.T4 e de +4,0% no 2023.T1. Seguimos com expansão de +3,4% em 2022, e, com as (poucas) informações atuais, estimamos crescimento de +4,8% em 2023.
Horas antes da divulgação dos dados de atividade do 2022.T3, o NBS (o equivalente ao IBGE chinês) divulgou que os resultados atrasariam – sem fornecer justificativa ou prazo para sua publicação. Tal movimento foi entendido como uma tentativa de não dividir as atenções com o Congresso do Partido Comunista Chinês, no qual Xi Jinping foi reconduzido ao cargo de líder máximo chinês e novos membros do Comitê Central foram escolhidos – dando início, assim, à transição política que se encerrará no 2023.T1.
O atraso na divulgação dos dados estimulou toda a sorte de especulações, e com razão: as datas dos eventos econômicos e políticos eram amplamente conhecidas, há muito tempo, e não divulgação dos números foi interpretada como uma possível tentativa de “esconder” indicadores fracos. Com o fim do Congresso, no último domingo, e, novamente, sem aviso prévio, as informações econômicas foram divulgadas. De início, de forma incompleta, mas, com o passar dos dias, já fornecendo todo o conjunto de informações necessário aos nossos comentários usuais.
O PIB chinês cresceu +3,9% interanual no 2022.T3 (gráfico 1), resultado superior à mediana de mercado (+3,3%) e à nossa projeção (+3,2%). Na margem, a economia chinesa expandiu +3,7% TsT (gráfico 2) – um resultado relativamente robusto, mas que se escorou no desempenho negativo do 2022.T2, quando do pico do novo surto de Covid na China continental. A retomada, em muitos aspectos, segue incompleta: a economia chinesa opera aproximadamente 10,0p.p. abaixo da extrapolação da sua tendência pré-Covid (de 2019) e também falha ao não atingir a extrapolação da tendência imediatamente prévia ao choque sanitário de 2022 (gráfico 3).
Dada a natureza do choque sanitário e suas implicações sobre a estrutura de consumo (por bens e serviços), seria esperado que uma retomada plena passasse pela normalização da confiança e da propensão marginal à poupança das famílias chinesas. Ainda que tais indicadores tenham melhorado marginalmente no 2022.T3, seguimos com um cenário de consumidores retraídos (gráfico 4). Isso posto, os vetores de retomada teriam que ocorrer, necessariamente, na Velha China – especialmente na indústria de construção e nos investimentos.
Observando o comportamento do PIB pelo lado da oferta, parece que foi exatamente isso que ocorreu; o crescimento interanual da indústria foi superior ao dos serviços (gráfico 5), ainda que se note que, em nível, os serviços parecem ter voltado praticamente ao nível sugerido pela extrapolação da tendência prévia ao choque sanitário deste ano (gráfico 6). Na indústria, destaca-se o comportamento da construção civil, com continua aceleração do crescimento interanual depois da depressão ocorrida no ano passado (gráfico 7), nisso incluindo um desempenho superior ao das manufaturas – que enfrentam desafios, de demanda, tanto internos como externos. Já nos serviços, fica evidente um certo descolamento entre os principais grupos, contrapondo o contínuo avanço de tecnologia da informação e as dificuldades crônicas de dinamização dos segmentos imobiliário e de “acomodação e lazer” (gráfico 8) – ambos ainda no entorno dos níveis do final de 2019, em linha com nossa visão de pouco dinamismo da demanda e retração dos consumidores domésticos.
Tal fato estilizado é confirmado pela avaliação do PIB pela ótica da demanda, onde a contribuição do consumo interno ao crescimento acumulado no ano é a mais baixa desde 2010 – excetuando, evidentemente, o choque de 2020 (gráfico 9). Assusta, no entanto, que a participação acumulada dos investimentos no crescimento de 2022 seja tão baixa (gráfico 10) – faltam vetores relevantes de demanda na economia, e o crescimento tende a ser baixo, ao menos no curto prazo, com políticas públicas descalibradas e inadequadas para lidar com os desafios atuais.
Em conclusão, seguimos céticos quanto à capacidade de forte aceleração do crescimento nos próximos trimestres – a retomada será lenta e repleta de desafios, tanto internos como externos. As políticas públicas erram ao priorizar a “Velha China” do lado da oferta. A atualização de nosso tracking de crescimento sugere expansão interanual de +4,6% no 2022.T4, seguida de crescimento de +4,0% no 2023.T1. Seguimos com expansão de +3,4% em 2022, e, com as (poucas) informações atuais, estimamos crescimento de +4,8% em 2023 (tabela 1).
Gráfico 1: Crescimento do PIB trimestral (interanual, comparado às expectativas de mercado)
Gráfico 2: Crescimento do PIB trimestral (margem)
Gráfico 3: PIB dessazonalizado em nível (dez/2010=100)
Gráfico 4: Pesquisa nacional dos poupadores bancários (segmentos específicos)
Gráfico 5: Crescimento do PIB (ótica da oferta, componentes selecionadas, AsA)
Gráfico 6: Crescimento do PIB, secundário vs. terciário (dez/19=100)
Gráfico 7: Crescimento do PIB secundário (componentes selecionadas, AsA)
Gráfico 8: PIB terciário (componentes selecionadas, dez/19=100)
Gráfico 9: Contribuição relativa do consumo interno para o crescimento (até o 3o trimestre)
Gráfico 10: Contribuição para o crescimento acumulado (demanda, até o 3o trimestre)
Tabela 1: Tracking PIB China (2022.T4 – 1a atualização)