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PIB China (2023.T2) e tracking PIB China (2023.T3 – 1a atualização): A materialização do nosso cenário

17/07/2023

Bottom line: O PIB chinês cresceu +6,3% em termos interanuais no 2023.T2, abaixo do estimado pela BRCG (+6,9%) e da mediana de mercado (+7,2%).  Com a redução do carregamento estatístico para este ano, atingir a meta de crescimento de 2023 ficou mais desafiador. Projetamos crescimento do PIB de +5,2% em 2023, e entendemos que o nosso cenário-base menos otimista está se materializando.

 
Temos tido, há muito tempo, uma visão menos positiva sobre as possibilidades de retomada da economia chinesa após o fim da política de Covid-zero, ocorrido no final do ano passado. Mesmo após a surpresa positiva do primeiro trimestre de 2023, quando o PIB cresceu +4,5% (frente ao mesmo trimestre de 2022), sempre defendemos que essa retomada mais vigorosa teria vida curta: questões estruturais afetariam o desempenho da economia e o impulso do consumo interno seria limitado, uma vez passado o repique da abertura sanitária. Assim, chegamos às vésperas do PIB do 2023.T2 com uma estimativa inferior à mediana de mercado. A divulgação do resultado, ocorrida nesta madrugada, veio abaixo do que esperávamos, somente reforçando a nossa construção geral do cenário.
O PIB chinês cresceu +6,3% em termos interanuais no 2023.T2 (gráfico 1), abaixo de nossa estimativa (+6,9%) e da mediana das expectativas de mercado (+7,2%). Na margem, observamos razoável expansão de +0,8% frente ao trimestre anterior, na série ajustada sazonalmente (gráfico 2), mas resulta notório o menor dinamismo da economia. É um ponto que defendemos há muito tempo: a China continua a crescer, mas de maneira errática e, mais importante, com ímpeto inferior ao observado na extrapolação da tendência prévia à pandemia (gráfico 3). Algo mudou na estrutura do crescimento chinês, e reconhecer esse fato é central para calibrarmos as nossas projeções e a avaliação prospectiva da economia.
Antes de falarmos da abertura do resultado, é importante reconhecer que houve mais uma revisão da série histórica do PIB ajustado sazonalmente, afetando, principalmente, os trimestres de meados de 2022. Com isso, novamente mudou-se o carregamento estatístico de 2022 para 2023, que agora reduziu 0,3p.p. frente à estimativa anterior (gráfico 4). Se antes crescer 5,0% (a meta) em 2023 parecia ser relativamente simples, agora o cenário fica mais desafiador.
Como sempre, não temos muitas aberturas do PIB imediatamente após a divulgação, impossibilitando análises mais profundas. As poucas aberturas que temos, pelo lado da oferta, indicam que o crescimento do 1o semestre do ano foi puxado primordialmente pelo setor terciário, ligado aos serviços no PIB (gráfico 5). Note-se, no entanto, que a participação relativa dos serviços parece ter sido maior no 2023.T1, somente confirmando a nossa visão de que, uma vez ultrapassado o repique sanitário, haveria perda de ímpeto mais rápida do que os analistas mais otimistas imaginavam. 
A saída para um crescimento mais robusto passa pela dinamização do setor secundário, desafio particularmente grande considerando o momento de carência de demanda (interna e externa) por bens e de desorganização no mercado imobiliário chinês (que continua relevante, como mostraremos nos comentários sobre os dados de alta frequência de junho). Incorporando os novos dados disponíveis, revisamos a nossa projeção de crescimento do PIB em 2023 para +5,2% (anterior: +5,5%). A 1a vintage do tracking do PIB do 2023.T3 mostra expansão interanual de +5,2%, seguida de crescimento de +5,0% no último trimestre do ano (tabela 1).
Gráfico 1: Crescimento do PIB trimestral (interanual, comparado às expectativas de mercado)
 
 
Gráfico 2: Crescimento do PIB trimestral (margem)
 
 
Gráfico 3: PIB dessazonalizado em nível (dez/2010=100)
 
 
Gráfico 4: Revisão do carregamento estatístico (atual vs. anterior, p.p.)
 
Gráfico 5: Crescimento do PIB (ótica da oferta, acumulado no ano)
 
Tabela 1: Tracking PIB China (2023.T3 – 1a atualização)