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Vendas no varejo (2022): Tom negativo ao fim do ano passado

09/02/2023

Bottom line:  As vendas no varejo frustraram novamente as expectativas de mercado em dezembro, especialmente no indicador restrito. Há viés de baixa para a nossa projeção de crescimento, tanto em 2022 como, especialmente, em 2023, derivado do comportamento dos indicadores de alta frequência ao final do ano passado. Revisaremos nossos números com a divulgação do volume de serviços, ainda nesta semana.

As vendas no varejo frustraram as expectativas de mercado em dezembro, principalmente no indicador restrito, sendo mais um indicador de moderação do crescimento na virada do ano. Para além da indústria, o varejo sugere um final de 2022 com tom mais negativo, que tende a ter poucos impactos sobre o crescimento do PIB do ano passado, mas que cria uma herança mais negativa para o crescimento de 2023.

O varejo restrito recuou -2,6% em dezembro, desempenho consistente com uma expansão interanual de 0,4%. Ambos os resultados foram bastante inferiores ao esperado pelo mercado (respectivamente -0,8% e 2,7), levando o crescimento observado em 2022 a 1,0% (tabela 1). A composição do varejo restrito mostra uma fraqueza disseminada, com contração marginal em quase todas as categorias de consumo. Destaques negativos para “tecidos, vestuário e calçados”, “móveis e eletrodomésticos” e “combustíveis”. Em 2022, os principais desempenhos negativos ocorreram em “móveis e eletrodomésticos” e “outros artigos de uso pessoal”. Em nota positiva, o crescimento das vendas de “combustíveis e lubrificantes” foi relevante em 2022, com forte resultado sendo construído sobre base comparativa favorável. Em nível (ajustado sazonalmente), o indicador de varejo restrito passou o ano passado oscilando em torno de um mesmo patamar, porém, ao final do ano, foi evidente uma desaceleração mais consistente (gráfico 1); ao fechamento de 2022, o varejo restrito ficou 1,8p.p. abaixo do nível imediatamente anterior à pandemia.

Já o varejo ampliado (que inclui material de construção e veículos, partes e peças) registrou expansão de 0,4% em dezembro, consistente com queda interanual de -0,6%. Em 2022, as vendas no varejo ampliado recuaram -0,6% (tabela 1). Tal como no restrito, os resultados foram inferiores ao esperado pelo mercado (respectivamente, 0,8% e 0,2%). O comportamento do indicador ampliado segue mais frágil que o do restrito, refletindo a sua composição mais “crédito-intensiva”. Dentre seus indicadores específicos, tanto as vendas automotivas como as da construção civil registraram expansão na margem, construídas sobre expansão em novembro. Esse comportamento mais forte ao final do ano não conseguiu salvar o desempenho de 2022, com profundas contrações em ambas as categorias de consumo (de, respectivamente, -1,7% e -8,7%). Em nível (ajustado sazonalmente), o varejo ampliado segue abaixo do patamar observado ao final de 2019 (gráfico 1).

O comportamento do varejo em dezembro não muda a nossa avaliação prospectiva, que segue antecipando desafios ao comportamento das vendas em 2023, reflexo da desaceleração do crescimento e da manutenção de condições financeiras em patamar restritivo. Com a divulgação dos serviços, faremos uma revisão das projeções de crescimento de 2022, e, principalmente, 2023. Tanto a indústria como o varejo sugerem algum viés de baixa para as nossas projeções de crescimento do PIB de 3,0% em 2022 e 0,6% em 2023. 

Tabela 1: Pesquisa mensal do comércio (PMC)

Gráfico 1: Vendas no varejo (dez/19=100, ajustado sazonalmente)