10/03/2022
Bottom line: As vendas no varejo surpreenderam positivamente em janeiro, tanto no indicador restrito como no ampliado, ainda que com revisões das séries históricas que tornaram a leitura dos resultados um tanto imprecisa. A despeito da surpresa, a composição do resultado foi ruim, com contrações espalhadas pelas principais rubricas. Não vemos qualquer sinal robusto de aceleração do varejo em 2022. A piora das condições de contorno da economia sugere que a nossa projeção de crescimento do PIB de +0,4% em 2022 possui, neste momento, claro viés de baixa.
As vendas no varejo surpreenderam positivamente em janeiro, tanto no indicador restrito como no ampliado, ainda que com revisões das séries históricas que tornaram a leitura dos resultados um tanto imprecisa. O varejo restrito avançou +0,8% no mês, resultado consistente com uma contração interanual de -1,9%. Ambos os resultados foram bastante superiores às expectativas de mercado (respectivamente +0,3% e -2,8%), reduzindo (marginalmente) a expansão acumulada em 12 meses para +1,3% (tabela 1). Note-se que a leitura mensal de dezembro foi revista de contração de -0,1% para contração de -1,9%, mantendo o desempenho interanual anteriormente reportado.
As aberturas do varejo restrito trouxeram uma composição negativa. As vendas de combustíveis, “hipermercados e supermercados”, vestuário e “móveis e eletrodomésticos” registraram contração marginal pelo segundo mês consecutivo, reforçando o tom de fraqueza da demanda neste início de 2022. Como nota positiva, as vendas de artigos farmacêuticos registraram expansão pelo segundo mês consecutivo, e “materiais de papelaria” e “outros artigos de uso pessoal” devolveram (ao menos) parte das quedas observadas ao fim do ano passado.
O varejo ampliado (que inclui material de construção e veículos, partes e peças), por sua vez, também surpreendeu positivamente, ainda que mostrando contrações de -0,3% na margem e de -1,5% na métrica interanual. Na margem, tanto as vendas de veículos como as vendas de material de construção mostraram desaceleração; no caso da construção, pelo segundo mês consecutivo. Em 12 meses, a expansão do varejo ampliado manteve-se relativamente estável, em +4,6% (tabela 1).
Ainda que melhores do que o esperado, os resultados de janeiro não devem ser motivo para grandes comemorações; em nível (ajustado sazonalmente), tanto o varejo restrito como o varejo ampliado se encontram abaixo do observado no pré-pandemia (gráfico 1). Não vemos qualquer sinal robusto de aceleração do varejo em 2022. Muito pelo contrário; a piora das condições de contorno da economia sugere que a nossa projeção de crescimento do PIB de +0,4% em 2022 possui, neste momento, claro viés de baixa.
Tabela 1: Pesquisa mensal do comércio (PMC)
| Pesquisa Mensal de Comércio | ||||||
| jan-22 | dez-21 | |||||
| MsM | AsA | ac. 12m | MsM | AsA | ac. 12m | |
| Varejo restrito | 0.8% | -1.9% | 1.3% | -1.9% | -2.9% | 1.4% |
| Combustíveis e lubrificantes | -0.4% | -6.7% | 0.4% | 0.0% | -6.2% | 0.3% |
| Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo | -0.1% | -1.0% | -2.8% | -0.5% | -0.4% | -2.7% |
| Tecidos, vestuário e calçados | -3.9% | 2.6% | 16.1% | -0.4% | -1.0% | 13.8% |
| Móveis e eletrodomésticos | -0.6% | -11.4% | -7.5% | -0.1% | -17.9% | -7.0% |
| Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos | 3.8% | 10.1% | 9.6% | 3.2% | 7.7% | 9.8% |
| Livros, jornais, revistas e papelaria | -2.0% | 23.0% | -4.0% | 2.1% | -5.9% | -16.9% |
| Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação | 0.3% | -7.1% | -1.4% | -1.8% | -6.4% | -2.0% |
| Outros artigos de uso pessoal e doméstico | 9.4% | -6.0% | 11.3% | -9.9% | -5.8% | 12.7% |
| Varejo ampliado | -0.3% | -1.5% | 4.6% | 0.3% | -2.7% | 4.5% |
| Veículos, motocicletas, partes e peças | -1.9% | 2.8% | 17.0% | 1.1% | 0.4% | 14.9% |
| Material de construção | -0.3% | -7.8% | 2.9% | -1.4% | -8.2% | 4.4% |
| Fonte: IBGE | ||||||
| Elaboração: BRCG | ||||||
Gráfico 1: Vendas no varejo (dez/19=100, ajustado sazonalmente)
