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Vendas no varejo (jul/21)

10/09/2021

Bottom line: As vendas no varejo superaram as expectativas em julho, tanto na métrica restrita como na ampliada, com expansão na margem e revisão positiva da série histórica recente. Os indicadores antecedentes de agosto indicam desafios no decorrer do terceiro trimestre, com a exaustão da base comparativa favorável e a forte desaceleração da renda disponível das famílias, combinando uma inflação cada vez mais elevada e um crescimento insuficiente da renda nominal. Esperamos moderação do crescimento das vendas no varejo até o final do ano.

As vendas no varejo superaram as expectativas em julho, tanto na métrica restrita como na ampliada, com expansão na margem e revisão positiva da série histórica recente. O varejo restrito expandiu +1,2% no mês, consistente com uma expansão interanual de +5,7%. Ambos os resultados foram superiores à mediana das expectativas de mercado (respectivamente +0,6% e +3,5%), ressaltando que houve enorme revisão da série ajustada sazonalmente (em junho, o resultado mensal passou de contração de -1,7% para expansão de +0,9%). O elevado resultado interanual ainda é consequência do efeito base gerado pela eclosão da Covid em 2020, mas lembramos que isso arrefecerá nas próximas divulgações; no acumulado em 12 meses, a expansão do varejo restrito manteve-se em +5,9% (tabela 1). 
A composição da métrica mensal mostra grande parte dos subsetores do varejo restrito em expansão. Do lado positivo, destacaram-se “outros artigos de uso pessoal”, “vestuário” e “hipermercados e supermercados”. Há, no entanto, notícias negativas na nova contração de “combustíveis e lubrificantes” e de “móveis e eletrodomésticos” – o ciclo de demanda pelas linhas branca e marrom dá sinais de exaustão, e a aceleração da inflação já parece machucar as vendas de subsetores específicos.
O varejo ampliado (que inclui material de construção e veículos, partes e peças) também surpreendeu positivamente, com expansão de +1,1% mensal e +7,1% interanual. Os resultados foram mais fortes do que a mediana das expectativas de mercado (respectivamente -0,6% e +4,0%), com pequena revisão positiva na contração marginal de junho (que passou de -2,3% para -2,1%). No acumulado em 12 meses, o crescimento do varejo ampliado avançou para +8,4%. 
Continua a dicotomia entre o comportamento marginal de veículos automotores e materiais de construção, reflexo dos distintos estados de seus respectivos ciclos de consumo. No caso dos veículos, registramos expansão de +0,2% em julho, ainda que aumentem os sinais (anedóticos) de moderação na demanda. Já os materiais de construção registraram contração de -2,3% em julho, por sobre forte desaceleração de -3,7% (na série já revista) em junho (tabela 1). Não são detalhes favoráveis, que sugerem pouca robustez na demanda por bens duráveis e materiais de construção na entrada deste trimestre.
Ainda que melhores do que o esperado, os resultados de julho não mudam nossa visão de que estamos no limiar de uma importante moderação no crescimento das vendas no varejo até o final do ano (gráfico 1). Os indicadores antecedentes de agosto indicam desafios no decorrer do terceiro trimestre, com a exaustão da base comparativa favorável e a forte desaceleração da renda disponível das famílias, combinando uma inflação cada vez mais elevada e um crescimento insuficiente da renda nominal. 
Tabela 1: Pesquisa mensal do comércio (PMC)
Pesquisa Mensal de Comércio
jul-21jun-21
MsMAsAac. 12mMsMAsAac. 12m 
Varejo restrito1.2%5.7%5.9%0.9%6.3%5.9%
Combustíveis e lubrificantes-0.3%6.4%-0.6%-0.8%11.8%-2.1%
Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo0.2%-1.7%-0.2%-0.5%-3.1%0.8%
Tecidos, vestuário e calçados2.8%42.0%10.3%-4.3%61.4%3.9%
Móveis e eletrodomésticos-1.4%-12.0%12.7%1.5%-5.4%16.2%
Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos0.1%4.9%13.6%0.4%13.2%14.4%
Livros, jornais, revistas e papelaria-5.2%-23.3%-28.2%4.8%17.2%-28.3%
Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação0.6%-5.6%-3.0%-3.5%3.7%-3.0%
Outros artigos de uso pessoal e doméstico19.1%36.8%23.0%-2.5%22.7%20.7%
Varejo ampliado1.1%7.1%8.4%-2.1%11.5%7.9%
Veículos, motocicletas, partes e peças0.2%17.9%11.7%-0.1%32.9%8.3%
Material de construção-2.3%-4.7%19.1%-3.7%5.4%22.0%
Fonte: IBGE
Elaboração: BRCG
Gráfico 1: Vendas no varejo (dez/19=100, ajustado sazonalmente)