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Vendas no varejo (jul/22): Frustrações e revisões

14/09/2022

Bottom line: As vendas no varejo frustraram novamente as expectativas em julho, tanto no indicador restrito como no ampliado. As leituras já foram impactadas, ao menos em parte, pelas novas rodadas de injeção de renda nas famílias, o que amplia a frustração com os resultados. Os indicadores de alta frequência de julho confirmam um leve viés de alta para as projeções de PIB, bastante concentrado em serviços. Agora esperamos expansão do PIB de +2,5% em 2022 e de +0,3% em 2023.

Pelo terceiro mês consecutivo, as vendas no varejo frustraram as expectativas de mercado, tanto no indicador restrito como no indicador ampliado. Note-se que as leituras de julho já foram impactadas, ao menos em parte, pelas novas rodadas de injeção de renda nas famílias, com cortes de impostos e aumento das transferências governamentais. Nesse sentido, a frustração com os resultados observados é relevante, lançando dúvidas sobre a capacidade de crescimento do varejo durante o segundo semestre do ano.
O varejo restrito contraiu -0,8% no mês, resultado consistente com uma contração interanual de -5,2%. Ambos os resultados foram bastante inferiores às expectativas de mercado (respectivamente +0,1%% e -3,5%). No acumulado em 12 meses, o varejo restrito passou a contrair -1,8% (tabela 1). Tal como ocorrido em junho, a composição do indicador mostrou uma desaceleração ampla na margem, somente com as vendas de “combustíveis e lubrificantes” registrando expansão frente ao mês anterior. Em nível (ajustado sazonalmente), o indicador de varejo restrito confirma a suave tendência de desaceleração observada desde o final do 2021.T1 (gráfico 1), voltando, agora, ao nível observado ao final de 2019.
Já o varejo ampliado (que inclui material de construção e veículos, partes e peças) registrou queda de -0,7% na margem, consistente com contração interanual de -6,8%. Os resultados também foram inferiores ao esperado (respectivamente -0,1% e -5,3%), ampliando a contração acumulada em 12 meses para -1,9% (tabela 1). Note-se que o desempenho marginal do varejo ampliado foi construído sobre uma base comparativa bastante favorável, o que reforça o tom negativo da divulgação de julho. 
O mesmo comentário pode ser feito às vendas de material de construção e de equipamentos automotivos, mantendo uma sequência já relativamente longa de contrações marginais (em julho, de, respectivamente, -2,7% e -2,0%). Reforça-se, assim, o ponto que fizemos no mês anterior: os segmentos crédito-intensivos sofrem, e não há sinal de retomada no horizonte relevante. Em nível (ajustado sazonalmente), a desaceleração do varejo ampliado é mais intensa do que a observada no restrito; o indicador já se encontra marcadamente abaixo do nível observado ao final de 2019 (gráfico 1).
Em conclusão, a bateria de dados de alta frequência de julho confirma que a economia brasileira opera, hoje, em duas velocidades: os serviços continuam em aceleração cíclica, mas os indicadores de produção industrial e vendas no varejo já dão sinais evidentes de desaceleração (gráfico 2) – marcada, sobretudo, nas vendas. O aumento da renda real das famílias, combinando transferências de renda e medidas “não-monetárias” de contenção da inflação, parece ter efeitos mais potentes nos serviços, o que não pode ser dissociado de um espaço, agora residual, de normalização do consumo no pós-pandemia.
O comportamento dos indicadores confirma o viés de alta que temos discutido para o PIB nesta segunda metade de 2022, ainda que de forma mais moderada do que a enxergada pelo mercado. Revisamos a nossa projeção de crescimento para +2,5% (anterior: +2,2%) em 2022, com desempenho mais forte, concentrado em serviços, tanto no 2022.T3 como no 2022.T4. Com carregamento estatístico um pouco melhor, revisamos também a projeção de crescimento de 2023, passando agora a +0,3% (anterior: +0,1%). A exaustão dos vetores expansionistas internos e os ventos contrários externos prenunciam que o ano que vem será difícil.
Tabela 1: Pesquisa mensal do comércio (PMC)
Gráfico 1: Vendas no varejo (dez/19=100, ajustado sazonalmente)
Gráfico 2: Indicadores de alta frequência (dez/19=100, ajustado sazonalmente)