BRCG

Decisão de política monetária – COPOM (ago/21)

04/08/2021

Bottom line: O Banco Central elevou a taxa Selic em 100bps na reunião de agosto, como amplamente esperado e de acordo com nossa expectativa, levando-a a 5,25%a.a. O Banco Central enxerga agora um cenário de leve restrição monetária até o fim de 2021, com a Selic atingindo 7,00%a.a. ao fim do ano, patamar mantido durante 2022 e levemente reduzido a 6,50%a.a. em 2023. A autoridade monetária também antecipou outra elevação de 100bps na Selic em sua próxima reunião. Ainda que a próxima elevação faça parte de nosso cenário, consideramos que o orçamento total pretendido pelo Banco Central será insuficiente para conter a escalada das expectativas e permitir a convergência da inflação para os anos de 2022 e 2023. Reafirmamos nosso call de Selic terminal a 7,75%a.a. em 2021 e de 8,75%a.a. em 2022, nível a ser atigindo ainda no primeiro trimestre do próximo ano.

O Banco Central elevou a taxa Selic em 100bps na reunião de agosto, como amplamente esperado e de acordo com nossa expectativa, levando-a a 5,25%a.a. O Banco Central enxerga agora um cenário de leve restrição monetária ao fim do ano, com a Selic atingindo 7,00%a.a., patamar mantido durante 2022 e, em seu cenário base, com pequeno ajuste à baixa para 6,50%a.a. em 2023. Mais ainda, a autoridade monetária antecipa outra elevação de 100bps em sua próxima reunião, um ajuste tempestivo que seria adequado para evitar deterioração adicional das expectativas em cenário de aceleração da inflação de curto prazo e reabertura do setor de serviços da economia. 
Ainda que a elevação de 100bps na reunião de setembro esteja em linha com nossa visão, entendemos que o ciclo de ajuste monetário pretendido pelo Banco Central será insuficiente para controlar a deterioração contratada do cenário. Há elevada probabilidade de choques adicionais em componente voláteis, destacadamente energia e combustíveis, com potencial para jogar a inflação de 2021 acima de nossa projeção de 7,5% – que já é, por sua vez, bastante superior ao cenário oficial de 6,5%. A composição oficial da inflação oficial nos parece excessivamente benigna em 2021, seja em preços administrados (BRCG: 11,6% vs. BCB: 10,0%) ou em preços livres (BRCG: 6,2% vs. BCB: 5,3%). Nossos números para 2022 são equivalentes em nível (BRCG: 3,6% vs. BCB: 3,5%) e composição, mas nosso orçamento de juros é bastante superior, já tendo em vista a convergência da inflação até o fim do próximo biênio.
A despeito da retórica mais dura, a avaliação de cenário do Banco Central, expressa nos resultados e premissas de suas projeções condicionais, continua nos parecendo muito defasada. Reafirmamos nosso call de Selic terminal a 7,75%a.a. em 2021, com elevação adicional a 8,75% no primeiro trimestre de 2022, em ciclo contínuo até a reunião de março de 2022 (100+75+75+50+50); somente com este orçamento de juros, bastante superior ao oficial e claramente já em terreno restritivo, consideramos ser possível convergir às metas de 2022 e, principalmente, de 2023.
Mais detalhes seguem abaixo. Como sempre, texto anterior em vermelho e novo texto sublinhado, com grifos onde julgamos relevante.
(1) Cenário externo: Piora do tom geral, com preocupações sanitárias (variante Delta) e inflacionárias. Mesmo assim, continuando vendo um cenário favorável para emergentes com estímulos de longa duração e reabertura global. Nenhuma menção explícita ao debate do tapering americano.
 
No cenário externo, estímulos fiscais e monetários em alguns países desenvolvidos promovem uma a evolução da variante Delta da Covid-19 adiciona risco à recuperação robusta da atividade econômica. Devido à presença de ociosidade, a comunicação dos principais bancos centrais sugereda economia global. O Comitê avalia que os estímulos monetários terão longa duração. Contudo, a incerteza segue elevada e uma nova rodadadespeito dos movimentos recentes nas curvas de juros, ainda há risco relevante de questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nessasaumento da inflação nas economias pode tornarcentrais. Ainda assim, o ambiente desafiador para países emergentes segue favorável com os estímulos monetários de longa duração, os programas fiscais e a reabertura das principais economias.
(2) Atividade doméstica: Manutenção do tom favorável do comunicado anterior, com crescimento robusto na sgunda metade do ano.
Em relação à atividade econômica brasileira, apesar da intensidade da segunda onda da pandemia,os indicadores recentes continuam mostrando evolução positiva e não ensejam mudança relevante para o cenário prospectivo, o qual contempla recuperação robusta do crescimento econômico ao longo do segundo semestre
 
(3) Inflação e expectativas: Piora substantiva no cenário inflacionário, com composição desfavorável e possibilidade de novos choques em energia e alimentos (ambos choques climáticos). A inflação será mais elevada no curto prazo. Núcleos continuam acima do consistente com o cumprimento da meta e expectativas Focus acima do topo da banda em 2021 (6,8%) e acima da meta em 2022 (3,8%). Focus 2023 na meta, mas agora o debate nesse horizonte é que vai começar para valer.
 

A inflação ao consumidor continua se revelando persistente. Os últimos indicadores divulgados mostram composição maispositiva do que o esperado, implicando revisões relevantes nas desfavorável. Destacam-se a surpresa com o componente subjacente da inflação de serviços e a continuidade da pressão sobre bens industriais, causando elevação dos núcleos. Além disso, há novas pressões em componentes voláteis, como a possível elevação do adicional da bandeira tarifária e os novos aumentos nos preços de alimentos, ambos decorrentes de condições climáticas adversas. Em conjunto, esses fatores acarretam revisão significativa dasprojeções de crescimento. Os riscos para a recuperação econômica reduziram-se significativamentecurto prazo

 

As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação

 

 

As expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 56,8%, 3,8% e 3,25%, respectivamente
(4) Projeções condicionais: O orçamento de juros passa a ser de 500bps em 2021, levando a Selic a 7,0%a.a., patamar mantido em 2022. A redução marginal para 6,50% em 2023 sugere que o ciclo de 2021-2022 levará a Selic a terreno levemente restritivo. As projeções oficiais, com esse cenário, são de IPCA a 6,5% (2021), 3,5% (2022) e 3,2% (2023) – nas metas, portanto, do biênio 2022-2023. Temos sérias dúvidas, dado o cenário atual, de que um orçamento tão pouco restritivo seja capaz de “fazer o trabalho”; nossa Selic terminal é de 7,75%a.a. em 2021 e de 8,75%a.a. em 2022. As projeções oficiais de inflação continuam nos parecendo “peculiares”, especialmente em biênio 2021. Para 2021, nossa projeção mais recente de IPCA é de 7,5%a.a, com inflação de administrados de 11,6% e de preços livres de 6,2% – todos bem mais elevados que os números oficiais (respectivamente, 6,5%, 10,0% e 5,3%). Nossas projeções para 2022 são de IPCA de 3,6%, administrados de 4,7% e livres de 3,2%, todas próximas aos números oficiais (3,5%, 4,6% e 3,1%), mas com orçamento de juros significativamente maior.
No cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,0515*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 6,5,8% para 2021 e, 3,5% para 2022. e 3,2% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 6,257,00% a.a. neste ano, mantém-se nesse valor durante 2022 e reduz-separa 6,50% a.a. em 20222023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 9,710,0% para 2021 e 5,14,6% para 2022e 2023. Adota-se uma hipótese neutra para a bandeira tarifária de energia elétrica, que se mantém em “vermelha patamar 1” em dezembro de cada ano-calendário.

 

(5) Balanço de riscos e decisão: O balanço de riscos é estritamente igual ao do último comunicado, e continua negativo devido ao risco fiscal. Esperávamos que os efeitos inerciais do choque inflacionário de curto prazo aparecessem no balanço de riscos, mas o Comitê os utilizou na justificativa da decisão. Como antecipado, elevação de 100bps, já mirando 2022 e, em menor grau, 2023 (lembremos que a meta de inflação recua para 3,5% em 2021 e 3,25% em 2022). O ajuste mais tempestivo é adequado para evitar piora adicional das expectativas em momento de aceleração da inflação de curto prazo e reabertura do setor de serviços.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções

Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico

Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país. Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

O Copom reitera que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,751,00 ponto percentual, para 45,25% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2022.as metas no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2022 e, em grau menor, o de 2023. Esse ajuste também reflete a percepção do Comitê de que a piora recente em componentes inerciais dos índices de preços, em meio à reabertura do setor de serviços, poderia provocar uma deterioração adicional das expectativas de inflação. O Copom considera que, neste momento, a estratégia de ser mais tempestivo no ajuste da política monetária é a mais apropriada para garantir a ancoragem das expectativas de inflação. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego

(6) Próximos passos: Se em junho foi abandonada a normalização parcial, em agosto postula-se que Selic deve chegar a patamar acima do neutro (o que já estava implícito nas projeções condicionais). O Comitê antecipa outro ajuste de igual magnitude na reunião de setembro, em linha com nosso cenário mais recente. Reafirmamos ser improvável, com o cenário atual e o balanço de riscos, que o Banco Central consiga interromper o orçamento de juros no nível pretendido.

 

Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscosdo Copom indicaindicam ser apropriada a normalizaçãoapropriado um ciclo de elevação da taxa de juros para patamarconsideradoacima do neutro

Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste é necessário para mitigar a disseminação dos atuais choques temporários sobre a inflação.da mesma magnitude. O ComitêCopom enfatiza, novamente, que não há compromisso com essa posição e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária

Para a próxima reunião, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização monetária com outro ajuste da mesma magnitude. Contudo, uma deterioração das expectativas de inflação para o horizonte relevante pode exigir uma redução mais tempestiva dos estímulos monetários. O Comitê ressalta que essa avaliação também dependerá da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e de como esses fatores afetam as projeções de inflação