17/01/2022
Bottom line: O PIB chinês cresceu +4,0% interanual no 2021.T4, resultado bastante superior à nossa projeção e à mediana das expectativas de mercado. Em 2021, a economia chinesa cresceu +8,1%. Com o aumento do carregamento estatístico e reconhecendo o tom mais “pró-crescimento” do debate público chinês, ajustamos a nossa projeção de crescimento interanual para +3,6% no 2022.T1, elevando a projeção de crescimento de 2022 para +5,0%. Nossas novas projeções são inferiores ao consenso de mercado.
O PIB chinês cresceu +4,0% interanual no 2021.T4, resultado bastante superior à nossa projeção e à mediana das expectativas de mercado (ambas em +3,3%), levando o crescimento de 2021 a +8,1%. A China emergiu com força do choque negativo da Covid-19, sendo o crescimento anual do ano passado o mais elevado desde 2011 (gráfico 1) – e recorde sob a administração Xi Jinping.
Não se pode perder de vista, no entanto, que a base comparativa foi extremamente favorável, e que, no decorrer de 2021, houve inequívoca desaceleração do crescimento interanual (gráfico 2) – mesmo com a surpresa do último trimestre, a taxa média de crescimento interanual da segunda metade do ano foi bastante inferior à observada no início de 2021. Na margem, a economia chinesa expandiu +1,6% TsT (frente ao 3o trimestre de 2021, na série livre de influências sazonais), resultado mais forte do que o esperado pelo mercado (+1,2% TsT). Ainda assim, o PIB dessazonalizado continua abaixo do que seria sugerido pela extrapolação da tendência pré-Covid (gráfico 3); a história de 2021 é de evidente redução do ímpeto da retomada da economia chinesa, a despeito do resultado anual elevado, depois de efetiva “recuperação em V” durante a segunda metade de 2020.
Como sempre, ainda não temos todas as aberturas dos subsetores de demanda e oferta, informações que só estarão disponíveis nos próximos dias. Análises mais profundas ainda são limitadas pela disponibilidade de dados, mas já é possível traçar um panorama geral do ocorrido no ano passado.
Sob a ótica da oferta, 2021 foi marcado por importante contribuição do setor terciário (serviços) ao crescimento, sendo responsável por aproximadamente 55% da expansão registrada no ano passado (gráfico 4). A aceleração relativa dos serviços foi particularmente marcada na segunda metade do ano (gráfico 5), com redução do ímpeto da indústria (no que se inclui a construção civil, para a qual ainda não temos os dados do 2021.T4). Em ambos os casos, no entanto, o desempenho esteve longe de espetacular durante a segunda metade do ano passado. Nos serviços, a ressurgência sanitária (Covid-Delta e, mais para o fim do ano, Covid-Ômicron) cobrou seu preço, atrapalhando a já difícil dinamização da demanda interna chinesa. Já na indústria, a combinação de racionamento de energia, desorganização das cadeias produtivas e choque regulatório no setor imobiliário puniu a atividade setorial, que continuou a piorar no 2021.T4: o crescimento interanual do setor secundário foi o pior da série histórica, excetuando o vale da Covid no 1o trimestre de 2020 (gráfico 6). Estancar a derivada negativa da atividade industrial será um tema importante no início de 2022.
Sob a ótica da demanda, e como espelho do observado na oferta, 2021 foi marcado pela dominância do consumo como vetor de crescimento (gráfico 7) – lembrando que os dados de PIB chinês não separam as componentes pública e privada -, em claro detrimento da contribuição dos investimentos – o que se relaciona de maneira intrínseca com os vetores negativos que se abateram sobre a produção manufatureira, e, especialmente, sobre o segmento imobiliário. Em cenário de incerteza sanitária e necessidade de recompor a poupança gasta durante a pandemia, temos severas dúvidas quanto à manutenção de robusta retomada do consumo privado durante 2022, colocando ainda mais peso sobre gastos do governo – dispêndios fiscais – para manter o crescimento deste ano em patamares “suficientes”.
A surpresa positiva do crescimento no 2021.T4 ajudou no carregamento estatístico para 2022, que fechou o ano em 1,9p.p. – abaixo do registrado nos anos anteriores (gráfico 8), mas acima do que esperávamos. Permanece, no entanto, um tom negativo para a atividade no início de 2022, com a convergência de vetores desafiadores na oferta e na demanda (tanto de bens como de serviços), de natureza econômica e sanitária. Não por acaso, o governo tem sinalizado apoio ao crescimento, já com medidas objetivas nos campos fiscal (principalmente a autorização de emissões de títulos de propósito especial pelos governos regionais), creditício (corte de compulsórios bancários e sugestão de apoio aos setores mais afetados pela Covid e pelo choque nos preços de insumos, isto é, famílias e pequenos negócios) e monetário (cortes nas taxas referenciais de de empréstimos de 1 ano, medium-term lending facility de 1 ano e taxas interbancárias de 7 dias, as duas últimas imediatamente após a divulgação do PIB de 2021).
Com as novas informações disponíveis e reconhecendo o tom mais “pró-crescimento” do debate público chinês, ajustamos a nossa projeção de crescimento interanual para +3,6% (anterior: +3,4%) no 2022.T1 (tabela 1), elevando a projeção de crescimento de 2022 para +5,0% (anterior: +4,9%). Estes números são menores do que as expectativas de mercado (respectivamente +4,2% e +5,2%), por entendermos que o governo implementará impulsos moderados, direcionados e com efeitos mais perceptíveis a partir do 2022.T2.
Gráfico 1: Crescimento do PIB (anual)
Gráfico 2: Crescimento do PIB trimestral (interanual, comparado às expectativas de mercado)
Gráfico 3: PIB dessazonalizado em nível (dez/2010=100)
Gráfico 4: Crescimento do PIB (ótica da oferta, anual)
Gráfico 5: Ótica da oferta (secundário vs. terciário, nível, dez/2019=100)
Gráfico 6: Crescimento do setor secundário (AsA)
Gráfico 7: Crescimento do PIB (ótica da demanda, anual)
Gráfico 8: Carregamento estatístico (p.p.)
Tabela 1: Tracking PIB China (2022.T1 – 1a atualização)
BRCG: Projeções para o crescimento chinês (2022) | |||||||
jan/22 | fev/22 | mar/22 | abr/22 | ||||
V(1) | V(2) | V(3) | V(4) | V(5) | V(6) | V(7) | |
2021.T2 | 18.3 | 18.3 | 18.3 | 18.3 | 18.3 | 18.3 | 18.3 |
2021.T3 | 7.9 | 7.9 | 7.9 | 7.9 | 7.9 | 7.9 | 7.9 |
2022.T2 | 4.9 | 4.9 | 4.9 | 4.9 | 4.9 | 4.9 | 4.9 |
2021.T4 | 4.0 | 4.0 | 4.0 | 4.0 | 4.0 | 4.0 | 4.0 |
2022.T1 | 3.6 | ||||||
2022 | 5.0 | ||||||
Fonte: BRCG | |||||||
Memo | |||||||
V(1): somente com defasagens | |||||||
V(2) / V(4) / V(6): modelos com variáveis (defasadas) macro e financeiras, além de aberturas (defasadas e contemporâneas) dos PMI’s | |||||||
V(3) / (V5): modelos bottom-up (dados contemporâneos) | |||||||
V(7): modelo bottom-up com hipóteses para último mês do trimestre |