BRCG

Produção industrial (abr/21)

02/06/2021

Bottom line:  A produção industrial contraiu -1,3% em abril, consistente com uma expansão anual de +34,7%. O resultado foi inferior à mediana das expectativas de mercado, com a grande expansão interanual sendo atribuída ao efeito base favorável quando da eclosão da Covid em abr/20. Nosso cenário base continua sendo de relevante recuperação da indústria no decorrer de 2021, mais do que compensando o mau resultado do ano passado. Vemos riscos negativos na desorganização das cadeias de suprimentos, na exaustão do ciclo de demanda por bens duráveis e semi-duráveis, e na emergência de gargalos de oferta (energia). Em contraposição, o estado geral da atividade mostrou-se mais forte do que originalmente pensado, o que ajudará a dar suporte à indústria adiante. Como última ressalva, o ciclo de substituição de importações, identificado ao final de 2020, parece estar se esvaindo.
 
A produção industrial contraiu -1,3% em abril, consistente com uma expansão anual de +34,7%. O resultado foi inferior à mediana das expectativas de mercado (-0,1% mensal e +34,7% anual), com a grande expansão interanual sendo atribuída ao efeito base favorável quando da eclosão da Covid em abr/20. A terceira contração mensal seguida reforça sinais de fraqueza da indústria desde meados do primeiro trimestre, em cenário de novas restrições sanitárias e, principalmente, de grande desorganização nas cadeias de insumos locais e globais. Mesmo assim, a indústria volta a terreno positivo na variação acumulada em 12 meses, com crescimento de +1,1% (tabela 1).
A surpresa negativa na margem pode ser atribuída, principalmente, ao fraco resultado da indústria de transformação, com contração de -2,2% frente ao mês anterior (tabela 1). Devido ao efeito base favorável, tal número foi consistente com expansão interanual de +40,2%, levando o desempenho acumulado em 12 meses à expansão de +1,7%.  A indústria extrativa, por sua vez, continua mantendo o bom momento em cenário de renovada demanda por commodities metálicas e energéticas, com crescimento de +1,6% mensal e + 3,6% anual; no acumulado em 12 meses, a indústria extrativa continua em contração de -2,9%, devendo levar mais alguns meses para retornar a terreno positivo.
Pelas categorias de uso da transformação (tabela 1), tivemos notícias mistas. Do lado positivo, a margem trouxe expansão da produção de bens de capital (+2,9% mensal e +125,1% anual) e dos bens de consumo duráveis (+1,6% mensal e +430,5% anual). Em ambos os casos, o desempenho positivo de abril sucedeu importantes contrações na margem em março. Do lado negativo, observamos contrações na margem em bens intermediários (-0,8% mensal e +25,8% anual) e em bens semi-duráveis/não duráveis (-0,9% mensal e +17,1% anual), no caso dos últimos com a segunda contração mensal seguida. As fantásticas taxas de expansão interanual, especialmente em bens de capital e bens de consumo duráveis, são inteiramente associadas ao efeito base de abr/20, quando a produção dessas categorias de uso foi virtualmente interrompida.
 
Nosso cenário base continua sendo de relevante recuperação da indústria no decorrer de 2021, mais do que compensando o mau resultado observado no ano passado. Há, no entanto, riscos a ponderar. Do lado negativo, preocupa-nos a desorganização das cadeias de suprimentos (em escala global), a provável exaustão do ciclo de demanda por bens duráveis e semi-duráveis (em meados do ano) e os sinais mais recente de gargalos na oferta – destacadamente em energia elétrica, com efeito claros em preços e potenciais em volumes. Do lado positivo, o estado geral da atividade se mostrou – e ainda se mostra – mais forte do que originalmente pensado, o que dará suporte à indústria adiante. Ressalta-se, por fim, que as evidências de substituição de importações parecem estar se esvaindo (gráfico 1), confirmando que o ciclo ocorrido ao fim do ano passado teve vida curta.
Tabela 1: Principais aberturas da produção industrial (MsM, AsA e acumulado em 12 meses)
Produção Industrial Mensal
abr-21mar-21
MsMAsAac. 12mMsMAsAac. 12m 
Indústria geral-1.3%34.7%1.1%-2.2%10.4%-3.1%
Atividades industriais
Extrativa1.6%3.6%-2.9%5.7%-0.1%-2.5%
Transformação-2.2%40.2%1.7%-3.1%11.9%-3.2%
Categorias de uso
Bens de capital2.9%125.1%5.1%-7.1%29.5%-4.8%
Bens intermediários-0.8%25.8%3.1%0.1%10.1%0.0%
Bens de consumo duráveis1.6%430.5%-5.7%-7.5%12.0%-18.6%
Bens de consumo semiduráveis e não duráveis-0.9%17.1%-1.9%-10.7%6.2%-5.0%
Fonte: IBGE
Elaboração: BRCG
Gráfico 1: Avaliando a substituição de importações