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Vendas no varejo (ago/21)

06/10/2021

Bottom line: As vendas no varejo surpreenderam negativamente em agosto, tanto na métrica restrita como na ampliada, com contrações nas métricas mensal e interanual. Ainda que mais pessimistas do que o mercado, também fomos surpreendidos pelos números divulgados. Os indicadores antecedentes de setembro indicam desafios crescentes no decorrer do terceiro trimestre, com a exaustão da base comparativa favorável, a piora nas condições financeiras e a forte desaceleração da renda disponível afetando a capacidade de consumo das famílias. 

As vendas no varejo surpreenderam negativamente em agosto, tanto na métrica restrita como na ampliada, com contrações nas métricas mensal e interanual.  O varejo restrito contraiu -3,1% no mês, consistente com queda interanual de -4,1%. Ambos os resultados foram bastante inferiores à mediana das expectativas de mercado (respectivamente +0,7% e +2,1%), ressaltando que houve enorme revisão da série ajustada sazonalmente (em julho, o resultado mensal passou de expansão de +1,2% para +2,7%). No acumulado em 12 meses, a expansão do varejo restrito desacelerou para 5,0% (tabela 1).
Com a exaustão da base comparativa favorável e redução da renda disponível, era de se esperar grande desaceleração do crescimento do varejo, especialmente na métrica interanual. A grande frustração observada, inclusive na margem, sugere que esses vetores negativos estão operando com mais intensidade do que pensávamos. A composição da métrica mensal mostra grande parte dos subsetores do varejo restrito em contração. Do lado positivo, destacaram-se “vestuário” e “artigos farmacêuticos”, ambos com dois meses seguidos (julho e agosto) de crescimento. Do lado negativo, destacaram-se as contrações em “hipermercados e supermercados”, “combustíveis e lubrificantes” e “móveis e eletrodomésticos” – essas duas com dois meses seguidos de contração na margem -, além de colapso em “Outros artigos de uso pessoal e profissional”, compensando a grande aceleração observada em julho.
O varejo ampliado (que inclui material de construção e veículos, partes e peças) também surpreendeu negativamente, com contração mensal de -2,5% e estabilidade interanual. Os resultados foram bem mais fracos do que a mediana das expectativas de mercado (respectivamente -0,5% e +3,1%), reduzindo o crescimento acumulado em 12 meses para +8,0%. Tal como ocorrido nos meses anteriores, há dicotomia entre o comportamento marginal de veículos automotores e materiais de construção, reflexo dos distintos estados de seus respectivos ciclos de consumo. No caso dos veículos, registramos expansão de +0,7% em agosto, ainda que sejam abundantes os sinais (anedóticos) de grande moderação na demanda já no curto prazo. Já os materiais de construção registraram contração de -1,3% em agosto, por sobre fortes desacelerações marginais em junho e julho (tabela 1). Parece haver pouca robustez na demanda por bens duráveis e materiais de construção durante o trimestre corrente.
Os resultados de agosto confirmaram nossa visão de que estávamos no limiar de uma importante moderação no crescimento das vendas no varejo (gráfico 1), mas é forçoso reconhecer que, mesmo sendo mais pessimistas, fomos surpreendidos pelos números divulgados. Os indicadores antecedentes de setembro indicam desafios crescentes no decorrer do terceiro trimestre, com a exaustão da base comparativa favorável, a piora nas condições financeiras e a forte desaceleração da renda disponível afetando a capacidade de consumo das famílias. 
Tabela 1: Pesquisa mensal do comércio (PMC)
Pesquisa Mensal de Comércio
ago-21jul-21
MsMAsAac. 12mMsMAsAac. 12m 
Varejo restrito-3.1%-4.1%5.0%2.7%5.8%5.9%
Combustíveis e lubrificantes-2.4%0.4%0.3%-0.7%6.6%-0.6%
Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo-0.9%-4.6%-0.8%0.0%-1.7%-0.2%
Tecidos, vestuário e calçados1.1%1.0%11.1%2.0%42.0%10.3%
Móveis e eletrodomésticos-1.3%-19.8%7.6%-1.6%-12.0%12.7%
Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos0.2%6.5%13.3%0.1%4.9%13.6%
Livros, jornais, revistas e papelaria-1.0%1.6%-25.2%-5.9%-23.3%-28.2%
Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação-4.7%-9.1%-2.7%-0.1%-5.1%-3.0%
Outros artigos de uso pessoal e doméstico-16.0%-1.7%21.0%19.1%36.9%23.0%
Varejo ampliado-2.5%0.0%8.0%1.1%7.1%8.4%
Veículos, motocicletas, partes e peças0.7%16.8%14.4%0.3%17.9%11.7%
Material de construção-1.3%-7.1%15.9%-2.4%-4.7%19.1%
Fonte: IBGE
Elaboração: BRCG
Gráfico 1: Vendas no varejo (dez/19=100, ajustado sazonalmente)